quinta-feira, março 05, 2009

SAUDADES… (o que é isso?)

Sempre ouvi dizer que a palavra “saudade” não tinha tradução nas outras línguas. Talvez não tenha definição, nem entendimento, daí a dificuldade de tradução.
Para mim torna-se difícil definir, ou fazer com que entendam o que eu sinto quando digo “tenho saudades…”

Na verdade, nem eu sei muito bem o que são saudades… Saudades daquele tempo, saudades de alguém que partiu, saudades de alguém que não chega, saudades da comida da avó… Conseguimos dizer que temos saudades de tudo e mais alguma coisa, inclusive, de cheiros, sabores, paisagens, momentos, toques…

Depois existem outras palavras, como nostalgia, saudosismo, melancolia que tem uma carga de saudade, mas é uma saudade de profunda tristeza. Nem sempre sinto essa tristeza, algumas saudades fazem-me sorrir.

E aquelas saudades que nos perseguem? aquelas que não queremos sentir mas sentimos, aquelas que quanto mais queremos esquecer, mais se lembram de nós! Aquelas saudades irritantes! Aquelas que já nem são saudades, são um género de beliscão na carne, são aquelas que parecem um estalo na cara, são aquelas saudades que gritam “sinto a tua falta”. Aquelas saudades que se entrenham em nós, acordamos com elas, deitamo-nos com elas... e ficamos fartos delas?!

Ora, sentir saudades ou sentir a falta, não é a mesma coisa. Sentir a falta de alguém é mais doloroso, dói, deixa marca, acutila a alma, sufoca, desespera, desorienta, rouba-nos o suspiro...

Finalmente, aparece o momento em que temos oportunidade de matar saudades... e não conseguimos!! Nem sempre se conseguem matar as saudades todas, fica sempre alguma coisa no peito, nem o abraço mais profundo consegue matar esta saudade. E quando parece que consegue, é porque afinal não eram saudades, ou eram?? E sentimos as coisas de formas diferentes?

No meio deste rodopio desentendido do que é a saudade, já não sei se sinto saudades, se sinto a falta… sei que sinto um vazio que antes não existia em mim.

Definitivamente, o que não gosto, é ter que ser eu a matar as minhas próprias saudades. Matar saudades que já não fazem sentido, matar saudades que são só minhas.
Destruir saudades, apagar memórias, querer esquecer, é um processo de autodestruição consciente e doloroso, afagado em lágrimas sem sal...

Não há tempo certo para sentir, ou deixar de sentir saudades. Infelizmente não se controla isso. Mas as saudades que são só minhas, ficarão em segredo, ficarão só para mim, ficarão num sufocado silêncio que grita “sinto a tua falta”.

E este, é um grito mudo, ao ouvido de um surdo, que ainda por cima é cego!

Desisto em silêncio, na esperança que ainda tenhas tacto, e percebas isto durante um abraço...

4 comentários:

Cláudia disse...

Admiro a tua capacidade de transpor para palavras o que se sente. É uma grande capacidade. De auto-análise/conhecimento, de organização de pensamento e também de grande espiritualidade e sentimento. E o que escreves aqui implica também o despir da alma, que algures já o terás dito. E esse despir da alma e ficar "nú" diante dos outros, que nos conhecem muito bem, ou que não nos conhecem de todo, é de grande generosidade. Porque permites, a quem não tem a sensibilidade necessária para te reconhecer neste estado de perceber isso.
Estou aqui para ti. Posso nem sempre perceber o que sentes (cegueta do caraças!), mas leio-te... ;)
Beijo grande.

Alma disse...

Cláudia, tanto elogio até faz mal... Mas é assim que penso que devemos ser. Nudistas na vida. Sem preconceitos, sem medos, sem avaliações dos outros... Se fossemos todos assim, o mundo seria outra coisa. Mas no fundo, no fundo, eu tenho as minhas capas negras onde me refugio, só em momentos em que sei que ninguém passa é que as tiro! O nudismo só não é incómodo quando à nossa volta só vemos pessoas despidas como nós, e isso é raro! Para os que não conheço posso andar nua, porque não sei o que trazem vestido, para os que conheço, partilho sem constrangimento a minha nudez porque também eles são o Adão ou Eva à procura do paraíso.
Obrigada por me leres, já que não me ouves! ;)
Um abraço

OC disse...

mais uma vez "amo" o que escreves...
OC

Luisa Rodrigues disse...

Ai a saudade a saudade, existe uma canção açoreana que diz. a palavra saudade quem seria que a inventou, o primeiro que a disse com certeza que chorou... e fico a pensar como e possivel que realmente quando bate a saudade são acompanhadas por aquele aperto que tu ai dizes enfim é a vida SAUDADES beijos