sexta-feira, outubro 24, 2008

Seremos PÓ

Já fui carne,
Agora sou pedra!
Pedra que tu partiste e transformaste em poeira!
Ainda me pegaste carinhoso, arrependido
Nessas mãos delicadas.
Mas sopraste-me para o ar,
Por cima da montanha,
Por cima do rio...
E fiquei por aí, solta, perdida,
Desfragmentada!
Um dia quando tiveres sede,
E te debruçares sobre o leito para beber,
Junta as tuas mãos de pedra,
E sorve a água onde me deixaste,
Respira o ar onde me sopraste
E voltarei a viver!
Nesse dia, voltarei a fazer parte de ti!
Nesse dia seremos os dois pó,
Nesse dia, amor, seremos um só!


AS

segunda-feira, outubro 20, 2008

Na tentativa de ter piada...

Pediram-me para a escrever coisas com piada, alegres! Mas este blog é o estado da minha alma, transparência cristalina do que sinto... Que me desculpem por ter dias maus!
Mas podemos fingir que estamos bem, é um facto! Podemos fingir isso muito bem, eu sei, porque o faço. Eu sei, porque o faço muito bem! Tão bem, que às vezes acredito nesta minha falsidade altruísta, para que tu não chores comigo.
É esta a minha alma, rir quando o coração nos chora e gargalhar quando o coração nos sorri... Chorar, isso é que não! Eu sorrio, e dou gargalhadas, evito a lágrima.
Choremos sozinhos, escondidos na nossa armadura de carne, entre os nossos músculos contraídos de desespero e as entranhas pútridas de saudade. Chapinhemos nas pocinhas de água salgada que encontramos aqui e além, apanhemos todos os espinhos e cardos que encontrarmos neste músculo tísico mal amado! Ah, vivans, vivamos na harmonia triste deste corpo que quebrado, desmantelado, se ergue firme, renovado, com um sorriso lindo e enojado. Ah vivans, vamos fingir e acreditar na nossa mentira... finjamos e vivamos! E sejamos felizes!
Choro apenas na presença dos que me conhecem melhor que ninguém, em frente àqueles que fazem parte da minha carne, em frente aqueles que mesmo que nos olhem nos olhos e não nos vejam lágrimas, sabem que choramos!! Não preciso verter lágrimas sequer para perceberes o meu sorriso. Eu sou assim, é do sorriso à gargalhada (bem sabes!), é assim que a vida me corre, é assim que lhe fujo, é assim que te rapto e te levo comigo porque te faço sorrir mesmo estando eu perdida e angustiada... É assim que me escondo e só sou descoberta por quem quero, por quem me encontra!
É assim que vos minto, é assim que vos engano! Por exemplo, este texto não é realmente o estado da minha alma. A transparência cristalina está nos olhos de quem me conhece.

Resumindo;
Só estou a experimentar uma nova forma de escrever, estilos diferentes... Só isso! Gostaste?! Mórbido outra vez?! Poças, queres que escreva sobre quê?!
Sobre a Bela e o Burro?!
Então seja; eis que a Bela com medo de ficar velha, atirou-se da janela e caiu em cima do burro! E... Podiam ter saído a cavalgar por ali fora e serem felizes... Mas o mais provável teria sido outra coisa! Não a vou escrever, mas bem sabes que ficaram estatelados no chão! ;)
Vamos mentir?! Vamos enganar? VAMOS!
A Bela caiu no chão, mesmo em cima do fardo da palha que alimentava o Burro, saindo ilesa de tamanha queda! O Burro que estava sossegado, surpreendido com aquele barulho, virou-se para a Bela com ar de poucos amigos e disse:
- Vens tarde e ainda por cima cais em cima da palha, bem que podias ter caido no balde da água!
- No balde da água!? Ia ficar toda molhada, 'tás parvo?!
- 'Tá caladinha e monta aí se queres!
A Bela montou o Burro e foram estrada fora em direcção ao pôr-de-sol vermelho, que os fundiu num ponto negro longínquo. FIM
Ah, e... Foram felizes para sempre!

sexta-feira, outubro 17, 2008

MORREMOS

Era assim tão importante para ti que me deixaste morrer nos teus braços? Era assim tão importante para ti que não me salvaste? Porque não me salvaste maldito incapaz??! Ficaste a olhar os meus olhos perdidos nos teus, ficaste deslumbrado com a tua dor e deixaste-me! Quantas vezes me disseste nos olhos fechados que me amavas?! Eu sei que o dizias e choravas... quantas vezes debruçado sobre a minha cama choraste?! Eu ouvia-te, ali ao meu lado, triste miserável! Como me amavas...
Bem sei que não podias fazer nada, mas porque não inventaste? Não fingiste que tudo seria possível, não fingiste que o meu fim simplesmente, não seria fim? Porque choraste tanto, meu amor? Bem sabes que não me perdeste, foi a vida que te separou de mim, foi por teres ficado vivo, que eu fiquei sozinha!
Nesta agonia de nos termos perdido, só há uma coisa por que não te culpo, é o teres feito o
muito com tão pouco! Irremediavelmente eu teria um fim, inevitavelmente eu não podia ficar ao teu lado. A vida não me queria, o respirar não me sustentava. Não podias ter feito nada! Eu sei... Porque se pudesses fazer, eu sei que farias! Pegavas em nós e levavas-nos para lá da vida, para lá da morte, para lá do mundo em que vivíamos. E levaste! Bem sei que me vens buscar, e me carregas no teu pensamento, bem sei como sofres por não me teres, bem sei que choras amargas lágrimas por te ter abandonado. Mas eu também não tenho culpa meu querido, eu não te abandonei! Eu deixei a vida, sem querer, sem culpa! Amor, desculpa. Mas eu tomo conta de ti, carrego-te no meu peito. Abraço-te tanto, encho-te de mimos sem me veres...
Como nos amamos, sem saber! Só percebeste isso agora, não foi? Como era intenso, verdadeiro, intrínseco... Eu também só percebi isso agora que estamos separados. Preciso de ti e não te posso abraçar, preciso de ti mas só te posso imaginar! Revolta-me não te ter, embora sabendo que és meu! A vida separou-nos porque morri. É por isso que não há culpados... nada podíamos fazer, nada!!
Mas daqui, vejo outros como nós, que vivos se deixam morrer. Se perdem uns dos outros por querer. Com escolha, com vida, perdem-se porque sim. Isso deve custar mais ainda. Seria insuportável viver sem ti, sabendo-me viva. Por isso não te culpo, por isso deixo-me estar, para viver assim, ainda bem que morri... E tu como viverias sem mim, sabendo-me viva?
Fizemos todos os possíveis para ficarmos juntos, não foi amor? Eu sei que sim... Foi ao teu lado que realmente vivi...vivemos!

Um beijo meu amor, onde quer que estejas, ainda que habites em mim, sinto-te por aí perdido.
AS

quinta-feira, outubro 16, 2008

BURRO APAIXONADO

Este poema é dedicado a todos aqueles que vivem apaixonados. Para aqueles que vivem um amor impossivel e ainda assim tem a capacidade de sorrir e fazer sorrir...

Saudades que matam,
Amor que queima,
Distancia que cansa,
É o que dá no cinema!
Este é filme que passa
Nesta velha tela,
São apenas relatos
Da vida que é bela!
Bela serás tu meu amor,
Na janela de um castelo
E eu serei o burro,
Que cá em baixo te espero!
Espero e desespero,
Porque não desces daí?
Sou um simples burro
Queres que morra aqui?!
O meu dono prendeu-me
Com um nó que não desata,
Se descesses daí
Serias bem mais sensata!
Ai, mas um burro é um burro,
Antes fosse cavalo,
Com a inteligência que tem
Já se tinha posto no car..lho!
Mas tenho muito orgulho
Em ser tão burro assim
Enquanto aqui te espero
Ainda olhas para mim!
Nas minhas orelhas caídas
E no pescoço levantado
Quero que vejas que te espero
Mas vou ficando cansado!
E agora meu amor,
Que sabes que te espero,
Vais descer daí
Ou esperas que fique velho?
Burro velho não corre,
Só te posso passear,
Mas se demoras a descer
Talvez nem possa andar!
No pior dos cenários,
Deste filme, desta tela,
Se demorares a descer
És tu que ficas velha!
Porque meu amor, eu te digo
Que o burro não envelhece,
Mas se a velha não desce,
O burro enlouquece.
Perdido na loucura,
De tanto esperar por ti,
Ficou o burro louco
Por só te querer a ti.
Se queres o esclarecimento,
Esse burro não sou eu
É a velha que está na torre
Que até hoje não desceu!
Se o burro te falasse,
Terias percebido?
Que o que ele queria
Era ter subido?
Estava preso coitado,
Por uma corda como viste,
Ai, desgraçado do burro
Como é triste, como é triste!
Se nessa torre tão alta
Não se ouvisse o que o mundo diz,
O burro seria um cavalo
E a bela seria feliz.

Esta história sem fim,
É para vos deixar a pensar
Que numa história de amor
Há sempre volta a dar!

AS

terça-feira, outubro 14, 2008

PERDIDOS

Para onde vamos quando não nos conhecemos?
E para onde queremos correr quando finalmente nos encontramos?
Perdidos, eternamente perdidos andamos,
Perdidos porque nos esquecemos onde estamos.
Esquecemos isto e aquilo,
Aquele e o outro,
O importante e o insignificante,
Esquecemos que a vida se vive no momento,
Neste momento, não no próximo.
Andamos perdidos
Com a cabeça no futuro,
Perdidos do presente, mas é no presente que estamos!
Caminhamos, corremos e assim nos cansamos.
E é tão fácil encontrarmo-nos aqui.
Porque nos procuramos num outro lugar se é aqui que estamos?
Perdidos andamos,
Sem saber para onde caminhar.
Não sei para onde vão,
Mas eu, é aqui que quero ficar!
E perco-me instantaneamente na ânsia do futuro.
Encontrando-me novamente perdida...

A.S

O futuro só vale a pena ser vivido quando lá chegamos. Na tentativa de imaginar o futuro, acabamos por viver uma ilusão. Imagino que seja esta a principal diferença entre nós e os animais,
eles não pensam no futuro, nós pensamos demais...

sexta-feira, outubro 10, 2008

CASAMENTO HOMOSSEXUAL

Está lançada a polémica, apesar de não fazer parte da agenda parlamentar, este assunto vai finalmente ser resolvido na Assembleia da República. Eu disse resolvido?! Enganei-me, não vão fazer é nada! Para além da triste figura que vão fazer em representação dos portugueses, os nossos governantes não vão fazer nadinha! E pelo que ouvi dizer, após semanas de hesitação e debate, a proposta vai mesmo ser chumbada! Baseada em que argumentos?
Ora vejamos, porque é que os homossexuais não se podem casar? Primeiro, teremos que analisar o que raio é um homossexual... Não sei, talvez sejam pessoas, ou não?! Então porque não tem o direito que as pessoas tem? Porque na realidade são “bichos” não é pessoal?! São animais irracionais, porque se fossem racionais, caramba, deixavam-se dessas paneleirices e assumiam de uma vez por todas todas a sua heterosexualidade, que faz do ser humano, gente! Que aliás, foi para isso que os pais as criaram, para sermos alguém na vida! Para sermos gente! Para sermos pessoas! Não para sermos homossexuais! Bem, está explicado porque privam os homossexuais de casar, não são pessoas, são... sei lá! São qualquer coisa que não tem os mesmos direitos que nós pessoas, certo, Sr Ministro?!
Agora vamos ver, o que significa casamento. Ora casamento, , segundo definição retirada dos Dicionários já ajustados ao acordo ortográfico, portanto actualizadíssimo, é nem mais nem menos isto. Cá vai:
Casamento: “n.m 1 Ato ou efeito de casar; 2 contrato celebrado entre duas pessoas que pretendam constituir família em conjunto; matrió(ô)nio; 3 cerimó(ô)nia que celebra o estabelecimento desse contrato; núpcias; 4 situação que resulta do ato de casar; 5 estado de casado; 6 [fig.] enlace; união; 7 [fig.] combinação (de casar+mento)”.

E segundo o artigo 1577º do Código Civil Português, o que é o casamento? Cá vai: Casamento: “é o contrato celebrado entre duas pessoas de sexo diferente que pretendam constituir família mediante uma plena comunhão de vida”.
Mais curiosidades; e o que diz o artigo 13º da Constituição da República?! Cá vai: “ninguém pode ser privilegiado, beneficiado, prejudicado, privado de qualquer direito ou isento de qualquer dever em razão da ascendência, sexo, raça, língua, território de origem, religião, convicções políticas ou ideológicas, instrução, situação económica, condição social ou orientação sexual”. Reparem que a “orientação sexual” foi a última actualização, mas foi finalmente colocado na Constituição! E ainda, se quisermos continuar neste roll de politiquices hipócritas, consultemos a Declaração de Princípios do PS, esse que vai chumbar a proposta do casamento homossexual. Cá vai: “O PS combate as desigualdades e discriminações fundadas em critérios de nascimento, sexo, orientação sexual, origem racial, fortuna, religião ou convicções, predisposições genéticas, ou quaisquer outras que não resultem da iniciativa e do mérito das pessoas, em condições de igualdade de direitos e oportunidades. O PS defende o princípio da equidade na promoção da justiça social.”
Esta é para rir, tendo em conta que, baseado em argumentos de que ainda não é o momento certo, e o país não está preparado e a mentalidade das portugueses, e isto e aquilo... vai chumbar a proposta!! Defendendo sempre que não é contra, mas que, não pode ser a favor... Parece o outro “é proibido, mas pode-se fazer!!”, “Nós defendemos, mas vamos votar contra!”
E depois estas leis, a Constituição, as definições, as normas, os direitos... uns dizem uma coisa, outros outra, é um contra censo de politicas! É forma de ter justificação para todas as ideias! Segundo a Constituição, é uma coisa, segundo o Código Civil é outra, segundo isto é cozido... segundo aquilo é assado... mas atenção que pode ser cozido e assado ao mesmo tempo! Depende do documento que se teve em conta para argumentar!
Gostava de saber sobre que documento o Sr. Ministro se debruçou para chumbar esta proposta. Foi o Código Civil por certo porque diz que o casamento é entre pessoas de sexo diferente, ou a Constituição da República? Talvez a Declaração do PS só porque lhe ficava bem usar uma declaração sua... oh pá, mas esta diz que não se pode descriminar os homossexuais, não pode ser, paciência... temos que usar outra, talvez a Constituição da Republica, esta também era boa, como governante do país, era bom ter como base a Constituição... chiça penico, essa também não pá, essa também vai ao encontro dos homossexuais... o Código Civil também é bom!! Vamos pelo código Civil... mas seremos inconstitucionais... Paciência, o povo não sabe o que isso é...

Mas o que é isto?! É gozo do grande! Parece que estão à espera de um novo 25 Abril proclamando a liberdade...
Tenho curiosidade em saber com quem se fala, a quem se apela, a quem se reclama?! Há Ministro da Igualdade? E da Desigualdade? E dos Direitos Humanos?! Ah... nem sequer há com quem falar... bonito! Fiquemos por aqui... Mas há Associações que apoiam estas pessoas, estas associações tem que ser mantidas de alguma forma, são sem fins lucrativos e tal mas... quer dizer! Se fossemos todos iguais não era necessário este tipo de instituições de apoio gay, que diga-se de passagem são cada vez mais! E recebem donativos para se manterem, e se esses donativos fossem mesmo para os que precisam? Claro que esses donativos iriam para os que realmente precisam de apoio e ajuda! Os homossexuais só são necessitados porque são descriminados, porque na realidade não tem problema nenhum! Estão a perceber?!
Voltemos ao que me trouxe aqui, que é precisamente o casamento entre homossexuais. Ora bem, chego à conclusão que tanta discriminação a estas pessoas só se deve à mentalidade retrograda da sociedade, e ao respeito que se tem por essa mentalidade retrograda! É só a mentalidade da nossa sociedade que não nos deixa evoluir. E como se isso não bastasse, vem o governo e assina por baixo, dando apoio a esse pensamento retrogrado! Parabéns Sr. Ministro, terá novamente o meu voto!
Já agora gostava que me explicassem o que é a disciplina partidária ou disciplina de voto! Neste contexto entendo disciplina como “regime de ordem imposta”, ou “ordem conveniente e necessária ao bom funcionamento de uma instituição” ou “submissão a um regulamento”, isto é, o Sr. Ministro vai impor que os seus colegas partidários votem conforme a convicção que lhes é imposta, ou seja, votem contra, mesmo que sejam a favor?! É isto?! E o momento certo será quando? Talvez numa campanha eleitoral, onde o povo seja uma comunidade gay. Era bom aprovar uma proposta destas nessa altura, não era?! Pois guarde-a muito bem na gavetinha para usar nesse momento, é que se usar agora, depois não tem!!
Só mais uma pergunta, na África do Sul os homossexuais podem casar não é? Na África... Bolas, que país evoluído, pensei que lá só existissem macacos e diamantes, não, também há casamento entre homossexuais! Nos estados dos Norte da América (Califórnia e Massachusetts, acho), na Bélgica, Canadá, Holanda, Noruega, assim como na Espanha... Países demasiado evoluídos, e cuidado, alguns próximos! Olhe que isto ainda se pega!
O país afinal é para ir para a frente, ou para trás? Em bom nome e por respeito às mentalidades de alguns portugueses, privamos a evolução do nosso país. Eu compreendo que algumas pessoas não aceitem, não compreendam, lhes faça confusão a orientação sexual de outras pessoas, mas onde é que estará a maioria dessas pessoas daqui a uns anos? O nosso futuro, e o do país, estará nos velhos ou nos novos? Nos que estão para partir ou nos que cá ficam??! Nos nossos avós ou nos nossos filhos??! É um governo para o futuro, ou para o passado?
É este o país em que vivemos, alguém que se entenda nesta república das bananas? Assim não se pode governar, nem ser governado! Isto é um pequeno exemplo das politiquices que se fazem no nosso país! E é revoltante...
Um abraço a todos os homossexuais que passarem por aqui e um pedido de desculpas por ter contribuído para o governo que nos governa!

quinta-feira, outubro 09, 2008

Na Rádio... Deu que pensar, só isso!

Hoje, como todas as manhãs quando vou para o trabalho, vim a ouvir rádio no carro. É agradável vir a ouvir a conversa alheia, sorrir dos disparates que dizem, intervalar com uma música, ficar a pensar no que disseram, ouvir notícias, ficar a par das novidades do mundo, aquelas que não interessam a ninguém, pois não passam de cusquices que vão directamente para a Recycle Bin do nosso cérebro, não deixando no entanto de ser informação! (Vejam bem o que dá para viver durante o transito matinal da IC19!! ;)
Hoje foi daqueles dias em que fiquei a matutar numa situação que se passou, tão banal, tão banal que nem é normal uma pessoa ficar a pensar nisto! As pessoas normais não pensariam nisto, mas eu não sou normal... Então foi o seguinte:
Estava a decorrer um género de um concurso, em que a concorrente em linha precisava adivinhar o nome de um filme e não sabia. Acontece a todos. O pior que lhe podia acontecer era não receber o prémio, que me pareceu ser um CD de música. Eis que a moça não sabia o nome do filme, nem com dicas, nem sem dicas... Paciência! A rapariga tinha ainda a oportunidade de pedir ajuda de um outro ouvinte, a qual solicitou. A outra ouvinte entrou em linha disposta a ajudar e sabia obviamente a resposta certa. Depois da resposta certa da segunda ouvinte, é que surgiu a questão que me deixou a pensar: “e a Andreia quer ficar com o prémio para si, ou vai dar à Carla?”, ou seja, a rapariga que foi ajudar queria ficar com o prémio, ou simplesmente ligou para participar e ajudar uma outra ouvinte? Para já, eu pensei que esta ajuda seria voluntariosa, seria para ajudar a outra a ganhar o prémio, pelo que fiquei surpresa com a pergunta e expectante com a resposta... A resposta foi simplesmente: “quero ficar com o prémio” e riu-se! E eu pensei “grande porca!”. Poderão vocês pensar (como eu pensei depois) “grande porca porquê? “Está no seu direito!”. Exactamente! Ela é que sabia a resposta, tinha direito ao prémio, para quê dar à outra?! Isso seria estupidez, certo? E se eu estivesse no lugar dela o que faria? Ficava com o prémio porque sou esperta, ou dava à outra porque sou boazinha e parva? Possivelmente dava à outra (não estou a assumir publicamente a minha parvoíce!) só para evitar que os ouvintes pensassem que era eu uma “grande porca”! Gosto de ser boazinha, mas na realidade o que sentiria não seria que tinha sido muito parva?
Assiste-nos o direito de criticar quem na sua integridade e autenticidade faz e diz aquilo que quer, não faltando ao respeito aos outros? Não me parece que tenhamos esse direito, embora o faça como o assumo aqui. E isto deixou-me a pensar, porque na tentativa de sermos melhores para agradar aos outros, acabamos por nos prejudicar a nós, ficamos com menos. Menos tempo, menos paciência, menos dinheiro, menos mérito, menos tanta coisa... ficamos talvez com mais pessoas que gostam de nós, ou essa parte de nós que é falsa. Na verdade evitamos é a crítica... vou fazer assim, senão pensam isto ou aquilo...
E esta simples atitude, esta naturalidade em assumir publicamente que se quer o que se quer, deixou-me a pensar que realmente devemos deixar de ser bonzinhos por falsidade, devemos ser autênticos! Se a critica existir, a autenticidade e a verdade irá em nossa defesa. Isto sempre contando que a autenticidade vem acompanhada de integridade! Claro está que o dar, às vezes nos dá prazer... Por vezes até agradecemos que nos apareça um mendigo à frente para podermos dar uma esmola e fazer a boa acção do dia! Um ceguinho que ajudamos a atravessar a estrada, uma velhinha que nos peça ajuda com os sacos das compras, etc, etc... mas isso é dar sem perder!
Dar a um desconhecido, com consciência que se perde algo que se deseja, já vai para além da bondade, é quase falsidade. Foi à conclusão que cheguei...
Parece que a opinião dos outros é importante, pelo menos para mim é. Mas essa opinião será assim tão importante? E os outros quem serão? Serão também assim tão importantes? São tão importantes que lhes permitimos que nos roubem a veracidade dos nossos actos? Talvez...

terça-feira, outubro 07, 2008

NO PALCO DA VIDA

Dou conta de mim aqui sentada, na plateia deste pequeno teatro. Ninguém me chamou, ninguém me pagou o bilhete para entrar, entrei inconsciente. Escolhi uma cadeira ao acaso e neste momento só me dou conta que estou aqui sem saber como ou porquê. Apareci aqui num silêncio que não se dá conta, um género de rapto fulminante de alma, sentimos que fomos transportados para longe de nós, sabendo que somos nós.
Encontro-me sentada na segunda fila, numa cadeira vermelha confortável, ligeiramente desviada do cento, à esquerda. Sente-se aqui uma atmosfera leve, de paz, um sossego que me embala, um silêncio tranquilo. Diria que é aquela solidão que nos sabe bem.
Abre-se o pano vermelho. Sem apresentações, sem pancadas de Molière. Abre-se e fecha-se o pano ao som do estalar de dedos, ao som do pestanejar dos meus olhos, ao ritmo das memórias que me escapam perdidas pelas fissuras marcadas das recordações. Recordações, memórias, uma vida que vejo agora a surgir em palco.
Vejo mil imagens, demasiados cenários, pessoas de que quem já me tinha esquecido mas que por alguma razão me encontro com elas agora. Vejo-me sempre em cena, perdida no meio daquelas almas pardas que se fundem e instantaneamente desaparecem de cena. Tudo em movimento, num rodopio de piscar de olhos, novo cenário, novas falas, novas gentes, novas emoções. Encontro-me ali, sem falas, sem deixas, por vezes sem adereços... sem nada!
Sei agora que a cena em palco é a minha vida. O passado longínquo, o passado recente, o meu presente! Ao aperceber-me que ali está a minha vida tento enganar o encenador, ou alguém que desconheço, e fecho os olhos no futuro! Mas o futuro é apenas um cenário de fundo preto, de luzes muito brancas sem nada que se consiga ver, indefinido, indecifrável, ilegível. O futuro não passa neste palco, no palco da vida não há futuro, claro! Esse também não interessa nada agora! Não interessa para hoje.
Marco aqui encontro com as pessoas que magoei, as que amei, as que passaram pela minha vida e saem pela esquerda alta, pessoas que são apenas figurantes pois já nem os traços ou o nome recordo. Vivo as emoções que me caem no coração, caem como uma torneira em ping-ping contínuo. “ping, ping, ping, pung, ping, ping, pung”, dissonantemente me fazem chorar, outras vezes me deixam sorrir. Vejo-me aqui a crecer a evoluir, não deixando de ser eu. Reparo que fui boa, fui má, deixei de ser e agora sou!
Sinto-me viva nesta cadeira, sinto o sangue a pulsar nas veias, sinto o coração a bater, sinto as lágrimas que caem. Sinto as sombras que entram nesta sala e se sentam discretas atrás de mim. Sinto a sua presença espiritualmente física. Não olho para trás porque sei quem são, não sei onde se sentam, o lugar que ocupam não me parece importante, mas sei quem são! Talvez uma ou outra me despertem a curiosidade e me tentem a olhar, mas não, não, continuo a olhar para o palco. Permanece o silêncio, a paz, o conforto das várias existências nesta sala.
As cenas em palco são de facto a minha vida! O arrepio na pele, a respiração que quebra, o baixar do sobrolho de enorme constrangimento disto ou daquilo. Decido que escolho as cenas que quero ver, as que quero recordar. Escolho! Quero escolher como se fizesse um zapping. Ai um zapping de olhos abertos, vejo segundo e segundos de cenas que não quero, que não queria que existissem mas estão lá esquecidas, elas estão lá, eu sei! Estas cenas que ficam no ar por certo é Molière que as escolhe porque eu não sou! Eu não as queria ver, jamais as escolheria, bem sei quem está nesta sala!
Sinto a agitação dos vultos que se sentam atrás de mim, sei que a sala não está cheia, mas já chegou quase toda a gente que tem bilhete. Todo este movimento é paralelo mas distante da atenção que dou ao que se passa à minha frente. Não me distrai, não me incomoda, simplesmente se está a passar nas minhas costas.
Entro na minha minha vida, como se entrasse nesta montanha que me ocupa o horizonte do olhar. Entro disposta a tudo. Vejo as árvores grandes que foram sementes, vejo as pequenas que serão grandes, vejo as pedras que devem ter rebolado pela encosta, vejo vestígios de fogo aqui e ali, vejo a recuperação do fogo salteado a verde acastanhado, vejo esta casa que não estava aqui, vejo as ruínas de outra que marcou a história das gentes. Não vejo uma simples montanha, vejo-lhe a alma! Vejo a constante mutação, o movimento, a evolução, a seiva que corre acelerada fazendo dela uma montanha viva! É assim que estou a olhar para mim. A ver onde foi o fogo, onde morreram as árvores, onde nascem as novas, para onde correm os rios, quem deslocou as pedras. Quem passa, quem só olha e quem realmente me vê! Quem entra e quem passa...
Passou na sala um vulto que me estremeceu! Sentou-se demasiado próximo de mim, no mesmo corredor, a duas cadeiras do meu lado direito. Eu não tinha intenção de me distrair e quase consegui! A tentação de movimentar ligeiramente a cabeça para ver o vulto desconhecido foi maior. Foi a audácia e o atrevimento com que o fez que mereceu a minha atenção. Na realidade foi a intensidade da sua presença que me distraiu. Sem trocar palavras entendemo-nos inteiramente, estranhei esse entendimento tão intimo. Perdi a cena, perdi alguma coisa em palco, não sei o quê, nada de importante por comparação a este momento. Soube que a partir deste momento iríamos assistir em palco a um crime, sem culpados e sem culpa. Percebeste aqui que fizeste primeiro parte de mim e só depois entraste na minha vida? Sinto-te aí, cúmplice de mim, a querer partilhar! Eu vou partilhar contigo, diz-me que cena queres ver em palco e eu mostro-te, eu abro o pano para ti amor!
Estamos sozinhos na sala, não te estranho, sei quem és, talvez um reflexo de mim, parte da minha alma perdida, partes de almas perdidas que se encontraram e se fundiram no mesmo pedaço de espelho partido.
Vejo agora as cenas em palco ao teu lado. Deixa-te estar. Fica em mim, fica na minha vida. Ficarás sempre em mim, porque num encanto da vida aconteceu-me o amor. O amor não se faz, não se procura, o amor nasce em nós, sem culpa e sem pecado. Originalmente deixamos de ser nós, somos um pouco mais. Somo nós e o outro pedaço de nós, e jamais poderemos esquecer um pouco daquilo que somos.