domingo, outubro 31, 2010

PASSA O TEMPO... FICA A ESPERANÇA

Dedicado a ti, que nasceste neste dia...

- O tempo passa, corre, foge e perde-se!
Esperamos que chegue,
Ou que volte atrás.
Nunca é o tempo certo - ou é muito cedo, ou tarde demais.
Ou se tem a mais, ou nos faz falta!
Somos no entanto, donos do tempo – do nosso tempo.
Mal nascemos, a primeira coisa que temos é tempo!
Contabilizamo-lo no relógio das memórias,
Das lembranças - alegres e tristes!
É assim que contamos a vida!
Tic-Tac – entre bons momentos e maus momentos!
Nesta contagem da vida,
Conta-me a mim, e conta-me sempre!
Vê-me como a criança que te habita,
O riso e o sorriso.
O teu espírito jovem, a tua alma esquecida.
A tua juventude que permanece pela vida.
Sou parte de ti!
Guarda-me no coração, na alma, no olhar – no teu altar.
Vê-me no teu reflexo do espelho.
Quando olhares para mim – olhos nos olhos,
Percebe que sou eu que te escondo as rugas
E os cabelos brancos,
Que te escondo a chuva do olhar,
Que te escondo o tempo perdido.
Não vejas a tua pele, vê para além dela.
Não me percas e não me esqueças.
Quando olhares para mim – olhos nos olhos,
Sorri - fizeste de ti o melhor!
Não insistas em ver a tua insignificância – nega-a!
Quando nos vires ao espelho,
Não fiques a admirar os teus defeitos,
Não fiques a perder esse tempo comigo.
Porq
ue o tempo passa, corre, foge e perde-se!

PARABÉNS! – fala-te a ESPERANÇA que nasceu contigo neste dia!

Vamos!? - eu e tu, viver a vida.

Para ti,
com tudo o que tenho.
AS

segunda-feira, outubro 25, 2010

CHORO... por tudo e por nada



Choro.
Choro em silêncio,
No vazio da nossa cama.
Um silêncio, com eco triste,
Que se enche de recordações.
Choro pelos sonhos
Que se desfizeram neste nada!
Este nada que era tudo,
Este tudo que se extinguiu - por tudo e por nada!
É por isto  que choro - por tudo e por nada!
Afinal nem sei porque choro.
Choro apenas.
Talvez por esta dor da solidão.
Choro por mim e por ti - choro por nós!
Em breves momentos,
Penso pacientemente
Que voltaremos a ser felizes.
Tu aí, eu aqui - distantes!

Mas não acredito nisso...E novamente,
Choro!


AS

sexta-feira, outubro 22, 2010

AMORES PARA SEMPRE


(aos meus 3 amores - ao último, ao do meio, e ao primeiro)

Navego neste mar de lembranças,
Sem saber para que lado remar.
Sem forças ou vontade,
Remo para a praia,
Onde me espera apenas

O nada e a areia molhada.
Remo do horizonte - onde me levaste
Para a areia fria - onde me deixaste!
Chego só e insegura à realidade.
Faço uma cova na areia molhada
Enterro ai esperanças e lembranças,
Misturo-as com o mar salgado dos meus olhos
Fixo o horizonte e saio desta praia.

Sei que nesta cova que fiz,
Jaz um amor feliz,
O meu, o verdadeiro,
O eterno - O primeiro!

Fiz mais viagens destas - de horizontes, para praias desertas.
Mas não voltei a fazer covas assim.
Trago tudo comigo,

Guardo tudo em mim;
No meu peito.
No meu abrigo!

Os amores não se matam,

Nem se enterram.
Não jazem em lado nenhum,
São fantasmas que nos abraçam,
À sua vez, um a um...

É assim que vos sinto,
Eternamente abraçados a mim.
Os amores não se esquecem
Porque é na alma que permanecem...
AS








terça-feira, outubro 19, 2010

SABER CUIDAR


No outro dia, em conversa com uma amiga, ela revelou-me que a sua palavra preferida do dicionário era “cuidar”. Inicialmente fiquei surpreendida por alguém ter uma palavra preferida no dicionário. Eu que gosto tanto de palavras, não tenho uma palavra preferida no dicionário!! Há loucos para tudo... Realmente, ter uma palavra preferida no dicionário não é coisa que se pense, ou que se saiba. Digo eu! Vocês sabem isto sobre vocês? 
Depois fiquei a pensar na palavra “cuidar”. É uma boa palavra!  À partida parece não dizer grande coisa, mas pensando bem, até tem algum sentido que se fale dela. A mim, fez-me pensar... E aqui está mais um devaneio dos meus: 


Nem gosto muito da palavra...  se tivesse uma palavra preferida seria “verdade”.
Tanto o “cuidar”, como a “verdade” não são para qualquer pessoa. Definitivamente eu não sou uma boa pessoa para cuidar de ninguém, mas sou óptima para dizer as verdades, mesmo que doam! Mentir não é comigo, detesto a mentira!! E detesto a omissão - que considero uma mentira...  Tenho uma certa dificuldade em distinguir a mentira de um segredo... Eu não minto (muito), mas tenho (muitos) segredos! Ocorre-me agora que “segredo” também é uma boa palavra!

Mas o verbo “cuidar”:
Cuidar de plantas para mim é desastroso, morrem todas, parece que ficam deprimidas com a minha presença! Sempre que olho para elas, estão murchas... Ou as afogo, ou as deixo secar! Na verdade, temos que conhecer as plantas para conseguir cuidar delas. São como as pessoas, temos que as conhecer para sabermos cuidar delas - amá-las, portanto!
Assumo que nunca me dei ao trabalho de conhecer plantas! Sei que a maior parte gosta de água e de luz, outras nem por isso. Mas só percebo que algo está errado quando estão numa fase terminal! E quando começam a morrer, pronto, desisto logo delas. Deixo-as padecer serenamente no seu vaso de terra... (isto até parece mal ser dito por uma engª do Ambiente, mas é a "verdade"!).
Gosto de plantas, de jardins, de flores, mas cuidar delas dá muito trabalho. Talvez não goste tanto assim, mas gosto de as ver bem cuidadas - por outros!
Cuidar de animais, parece-me mais fácil! Com animais safo-me mais ou menos, porque são seres vivos que se queixam - ou têm fome, ou têm sede, ou a areia está suja ou têm falta de mimo! Certos animais "falam"! As plantas não! Tenho 2 gatos que amo. Também tenho um aquário de água quente com peixes, mas como os peixes não se queixam, volta e meia lá aparecem afogados no aquário... Sou um desastre a cuidar do que quer que seja! Não se preocupem, os gatos estão entregues aos cuidados duma amiga, são mais dela que meus! Pronto, são dela! Os peixes, paciência, estão ao meu cuidado! Mas como sabem, os peixes tem um tempo de vida curta, não percebo se morrem de velhice ou de fome. Acho que é de velhice, ou pelo menos é nisso que acredito. Se fosse de fome, morriam todos! De fome não devem morrer.. eles bebem água, ou comem as cacas uns dos outros... (penso eu, quando vejo algum a boiar). Vá morre um de vez em quando, e são daqueles mais pequeninos... não é muuuuito grave! O aquário tem muito espaço (90 Litros), também não morrem de falta de ar! Morrem de velhice, sem dúvida!
É frustrante ter esta limitação de não saber cuidar... Mas pronto, ao menos sou uma pessoa que assume as limitações!

O que eu consigo fazer mais próximo de “cuidar” é “tomar conta”. Mas na realidade são duas coisas completamente diferentes! Cuidar é contínuo no tempo, tomar conta, é uma coisa temporária... Para cuidar é preciso ter arte, é preciso ter nascido com essa capacidade, com esse dom! Eu, definitivamente, não nasci nem com a arte, nem com o dom! Cuido por preocupação e por amor... Tirando duas ou três pessoas que amei e cuidei, não tenho paciência para cuidar de nada nem ninguém! É que do meu ponto de vista, cuidar dá realmente muito trabalho, esgota-me! Tem que se conhecer o que precisa de cuidados e tem que se ter muita paciência. Paciência também é coisa que Deus se esqueceu de meter no meu pacote... é pena! (já tive menos!).

Sei que não é uma limitação apenas minha, mas de meio mundo! Nem toda a gente sabe cuidar de mim... Algumas pessoas foram uns completos desastres nessa arte! Eu sei que sou uma chata, e uma mimalha – saí à minha avó!! Mas não sou só eu que não sei cuidar, há muita boa gente que não sabe fazer isso!! Diria até, a maior parte das pessoas não sabe cuidar! São raras as pessoas que o sabem fazer, e estarão em vias de extinção! Tudo o que dá trabalho e não tem retorno visível é de descartar. A maioria das pessoas quando dá, espera! - é assim o ser humano! Portanto, cuidar só pelo prazer de cuidar, parece-me que é só para os santos.. e para as mães (algumas!). 
Por exemplo, cuidar da minha avó que amo e amo dá muito trabalho, porque ela é muito exigente, tem muito mimo... mas às vezes “tomo conta” dela... Atenção! - não cuido, tomo conta!! Cuidar, cuidar, cuida a a minha tia! A minha tia também sabe cuidar muito bem de plantas... São pessoas especiais, pronto! Esta minha tia deve ser santa... é!!

E será que fazendo um esforço conseguimos cuidar bem das coisas? - Conseguimos, mas lá está, temos que fazer um esforço! Já pressupõe sacrifício, já se cobra, já nos cansa... Há aqueles que o fazem por prazer, sem esforço! Não cobram, nem se queixam... Cuidar deve cansar imenso o espirito e o corpo. Não acredito que alguém cuide sem dizer um “ai”, talvez os santos que já estão nos altares das Igrejas... Aos outros chamamos-lhe os benfeitores, os enfermeiros (alguns, que outros são umas cavalgaduras, como diz a minha avó!), os assistentes sociais, os padres, os voluntários, os professores, as amas... Bem, estou agora a pensar que há profissões que exigem que se saiba cuidar, mas a verdade é que nem todos o sabem fazer, nem mesmo depois de aprenderem durante o curso como se deve cuidar!! (não sei se há alguma cadeira na universidade que se chame “como cuidar”, acho que não!) Há médicos, enfermeiros, professores, padres, assistentes sociais e amas, que são autênticas bestas, acho que até eu fazia melhor! Distingue-se os excelentes profissionais, dos profissionais normais conforme a aptidão natural para as coisas que fazem. Há o professor e o excelente professor! Há o enfermeiro e o excelente enfermeiro! Há o médico e o excelente médico, o advogado e o excelente advogado... por aí fora! A diferença de um para o outro é a paixão e a dedicação com que fazem as coisas - o fazer com dom, ou sem dom! Eu não tenho dom nenhum, se o tenho, ainda não o descobri. Não sou excelente a fazer nada, mas sou um desastre a fazer muita coisa! Bem, eu tenho dons, mas são realmente inúteis!

Para cuidar, é preciso ter paixão! E ter paixão para cuidar não se aprende na Universidade! Eu detesto enfermeiros, sempre com a ponta da agulha para nos enterrar no rabo! Venha com paixão, ou sem paixão! Ou o médico, sempre com o pauzinho pronto para nos enfiar na garganta! Ou com as luvinhas para abrirmos as pernas! Venha com paixão, ou sem ela... Gosto de ouvir um professor com paixão... Gosto de ouvir uma mãe apaixonada pelos filhos. Gosto de um advogado que defende com paixão... Gosto de pessoas apaixonadas pelo que fazem! Depois há profissões que nos conquistam mais que outras. Um excelente enfermeiro até me pode falar da forma apaixonada como cuida dos doentes, mas não me venha cá enfiar a agulha nas veias e dizer que vai cuidar de mim, que não me encanta!! Um excelente professor sim, encanta-me só por me ler uma história para crianças... Eu não falo com paixão sobre nada, falo é de uma forma apaixonante sobre tudo! (disseram-me isto e ainda hoje penso se foi um elogio, se foi uma crítica).

Ora, entendo que quem cuida, ama! E amar quase desconhecidos, (os doentes, os filhos dos outros, os desprotegidos, os abandonados, etc, etc) não é para mim!
Se uma amiga minha me perguntasse se podia tomar conta dos filhos durante a noite, não teria qualquer problema! Eu sei tomar conta, é só olhar por eles. Brincar um bocadinho, dar de comer, dar um soníforo para dormirem e já está! Agora cuidar... Não me venham cá pedir isso! Eu sei muito bem a diferença quando oiço estas palavras; “tomar conta”, “ter cuidado” e “cuidar”! O “cuidar” é a única que me assusta...

Gosto que cuidem de mim, e têm que o fazer bem feito!! Como eu faria! Como faço com a minha avó, ou como a minha avó fazia comigo. E até sou exigente, porque sei que quando cuido, cuido muito bem! Eu sou muito extremosa com as pessoas que amo, não lhes falta nada no leito da doença, mas lá está, é um curto espaço de tempo – enquanto estão doentes! E rezo para que lhes passe rapidamente – por eles e por mim! Quando amo muito, desejo até ficar com as suas dores (só me aconteceu uma vez e era porque a dor me parecia suportável – era uma paralitica dolorosa nas costas, ou lá o que era aquilo!)

Resumindo, “cuidar” não se aprende. Nem se ensina! Está na alma das pessoas. A minha alma também não pode ter espaço para tudo... Infelizmente tem espaço para muitas coisas que não servem para nada! Senão eu seria um ser quase perfeito, e só eu e Deus sabemos os defeitos que tem a minha alma... As qualidades são muitas mas até agora não me serviram para nada – são fraquinhas! Os defeitos não, esses são defeitos como deve de ser – em grande!

Olhem, eu nem de mim sei cuidar, para quanto mais cuidar dos outros. Não percebo quando alguém precisa dos meus cuidados! Só se estiver a morrer, e tem que me dizer... e mesmo assim, sou capaz de fazer algum disparate! Eu sou do melhor que há, sou um desastre ambulante! Sou aquilo a que as minhas amigas dizem uma “estás-te a cagar!” Não é que esteja, mas pronto, sou distraída! É que não percebo onde doí, porque doí, como aliviar a dor... Sou meia homem!! Cabeça no ar, desinteressada e desastrada... Acho que é a minha frontalidade que me torna um desastre, a verdade magoa e por vezes é inútil... Mas sei dar bons conselhos! Chamem-me o que quiserem, mas não é por aí que se mede a amizade, ou amor que temos pelas pessoas! Eu gosto e amo, mas não o faço de uma forma atenta e carinhosa... Não saberei amar.. Faço-o à minha maneira! Mas eu sei dar mimo! Mimo bom, mas é durante pouco tempo! E quem gosta de mim, bem sabe que eu sou assim!! Se eu fosse de outra maneira deixava de ser eu, certo? Qual era a piada?

E ainda... “cuidar” do meu carro! - não sei cuidar dele... Parece que é o carro dum homem das obras, mas ninguém gosta mais do meu carro que eu!! E bem estimado que está! Ainda anda depois de tantos trambolhões que deu! Acompanha-me há 15 anos - desde sempre - e não o trocava por outro! Nem ele a mim! É amor ao carro, mas lá está, não sei quando mudar o óleo, quando mudar os pneus, quando mudar as pastilhas... ele que se queixe - que é o que faz – e aí, sim, tenho que cuidar! O verbo cuidar é quase transversal na vida - temos que cuidar de nós próprios, dos outros e das coisas! Daí a dificuldade...

Esta minha limitação, confesso aqui, provoca-me pavor a pessoas acamadas, ou a deficientes! Não me peçam por favor para cuidar destas pessoas! Morriam nas minhas mãos, é que era logo! Pumba! Morriam! É por isso que admiro muito as pessoas que sabem cuidar destas. Admiro mesmo! Não as entendo, mas admiro-as! Porque é que não tenho filhos? É mesmo por saber esta limitação, saberia lá eu cuidar de uma criança... Dizem que o instinto maternal vem e tal, que aprendemos sozinhas, que nasce em nós... e se não nasce?! Entrego a criança à amiga, como se fossem aos gatos, não?! É grave, é muito grave esta limitação... Eu poderia ser um excelente pai, mas mãe, não me estou a ver... E pai, parece-me impossível! Portanto, mais vale estar quieta – não virgem – mas sem filhos! Graças a Deus, nem sequer tenho o instinto maternal, como algumas amigas da minha idade.. Coitadas! Elas que os tenham que eu vou visitá-los! Safa! E se for preciso até tomo conta deles... Cuidar, esqueçam! Eu sou terrível com as crianças, sou pior que elas, deseduco-as num instante, mas adoram-me! Caras amigas, crianças não cuidam de crianças, tá!? Crianças juntas fazem disparates, divertem-se! 
Amo uma criança, divirto-me com ela e adoro os disparates! Desta criança não me importaria de cuidar, mas é porque a amo! Conheço-a, sinto-a. Sei que ao tomar conta dela, estaria na verdade a cuidar! É preciso uma amor profundo para eu cuidar sem perceber que estou a cuidar. É um cuidar inconsciente, provocado pelo amor! Percebem-me? 

Não vamos confundir amor, com amizade! Amizade, é uma cena muito diferente de amor, não me venham com filosofias... Eu felizmente sei o que é o amor e sei o que é a amizade! São coisas completamente diferentes... Sentem-se coisas diferentes, agimos de formas diferentes. Amo melhor do que sou amiga - amo com uma entrega constante, sou amiga com uma entrega intermitente! Não sou a excelente amiga, mas adoro os meus amigos! São assim a coisa mais importante para mim, mas não posso cuidar deles... Não posso porque não consigo. Tenham paciência, só eu sei o que lamento ser assim! Nasce-se assim, com esta deficiência!

Bem, resumindo; eu para cuidar preciso de amar! Amar, amar! Amar de amor, de paixão, de companheiro, de amante... Esse amor, que nos enlouquece, que nos transforma, que nos muda, que nos faz melhores sem darmos por isso, que nos faz desejar as dores do outro...

E pronto, não disse nada daquilo que pensei que ia dizer, mas disse mais uns disparates, certo?!

Todos temos um papel a desempenhar neste mundo... talvez a palavra preferida no dicionário esteja relacionada com isso, não sei.
Pensem na vossa palavra preferida no dicionário e quem sabe não concluam alguma coisa sobre vocês. 


quarta-feira, outubro 13, 2010

CÁLICE DE AMOR



Bebi deste cálice vazio
A bebida mais espirituosa,
A que mais me embriagou.
Não tem álcool, nem açúcar,
Não é doce, nem salgada,
É pura - mas não é água!
Tem gosto a felicidade
Um travo de paixão,
Sabor de desejo
Pitada de solidão.
Cheira intensamente a saudade
Mas a cor nada nos diz,
Bebe-se devagar
Enquanto nos faz feliz.
É uma bebida diferente
Que enche o copo de muita gente.


É a bebida do coração,

Com sabor amargo - a casca de limão!

- É um cálice de amor... sem limão, se faz favor!

Brindemos!
Saúde!

terça-feira, outubro 12, 2010

QUAL A MELHOR POSIÇÃO PARA CHORAR ?!?

Esta questão parece no mínimo ridícula, mas surgiu-me na sequência de um episódio de choro. Nunca vos aconteceu estarem na posição de deitados, de barriga para cima, começarem a chorar serenamente, e as lágrimas escorrerem mesmo direitinhas para dentro dos ouvidos?! Se já choraram nesta posição, com certeza que isto já vos aconteceu... Lágrimas a entrar nos ouvidos é incomodativo e completamente despropositado... É cortar a tesão do choro - é que as lágrimas entram mesmo no sítio errado! Defino como tesão de choro, aquela vontade de chorar, que aparece não se sabe como, mas que tem que ser, para nos aliviar...


Isto aconteceu-me só desta vez, se calhar é por nunca ter chorado nesta posição, não é hábito chorar... Tem dias! Depois das lágrimas me entrarem nos ouvidos, fiquei irritada, mas como a minha tesão de choro era muita, insisti em chorar . Tinha que arranjar outra posição, então virei-me de lado na cama. Nesta posição - de lado na cama - verifiquei que as lágrimas me caiam de um olho para o outro olho e se juntavam num circulo húmido na almofada. Estaria a produzir muitas lágrimas, ou então eram daquelas grossas e pesadas, cheias de sal! Escusado será dizer que a almofada molhada me começou a incomodar... Claro que aquele ranho próprio do choro se ia juntando às lágrimas, e foi num instante que almofada ficou ensopada, fria e desconfortável... Outra posição para chorar? Agarrar a almofada e enterrar lá a cabeça – é um sufoco - não dá para soluçar e respirar ao mesmo tempo! Desisti desta também...
Adquiri então a posição de sentada. Reparem que esta já era a quarta posição que estava a adoptar para chorar!! Tesão é tesão, tinha que encontrar uma posição rapidamente! Ora sentada à beira da cama, as lágrimas escorrem pela cara abaixo e vão cair directamente no peito. Se estivermos vestidos, apesar das camisas ficarem manchadas e denunciam a fossa que queremos ocultar, não é tão grave como estar despido, porque as lágrimas caem no peito, quase, quase em cima dos mamilos, ou encaminha-se na direcção deles... Não há paciência!!
Ainda sentada à beira da cama, coloquei então a cabeça entre as mãos - pareceu-me uma boa posição! As lágrimas caem directamente para o chão sem encontrar qualquer tipo de obstáculo! Juntam-se todas bem juntinhas, formando uma poça de lágrimas no chão... É muito deprimente observar esta poça de água e sal que sai de nós, da nossa dor! Não fiquei muito tempo a olhar para isto... Já agora, não adquiram esta posição em público porque passado algum tempo parece que estamos a apreciar o xixi dum cão! Aliás, não adquiram nenhuma destas posições na rua - é ridídulo chorar em público!
Como devem estar a pensar, perdi obviamente a vontade de chorar! Não encontrava a posição... Limpei a cara aos lençóis, chamei estúpida a mim própria e fui lavar a cara! Olhei para o espelho, chamei novamente estúpida a mim própria, esbocei um sorriso por ter esta capacidade incrível de me elogiar e entrei na banheira para tomar banho!
Dentro da banheira, ainda com a sensação de dever não cumprido, pensei em chorar! Dentro de água até que é confortável, porque é água com água, fica tudo limpo... mas não se ouve, nem se sente aquela emoção que se liberta com as lágrimas! Não se ouve o fungar, o soluçar, o roncar... Todos aqueles sons que se fazem quando choramos a sério... Na banheira, deu-me a sensação de estar a chorar para o boneco! Não é que eu quisesse chorar para alguém, não!, talvez pensem que sou uma louca masoquista, mas apercebi-me que gosto de sentir e ouvir o meu choro! Há loucos para tudo, e eu não nego a minha loucura. Mas ressalvo aqui que isto de chorar, ter vontade e querer sentir o choro é a primeira vez que me acontece!! Talvez tenha transformado o choro num ritual, não sei... São fases que parece que se afeiçoam a nós. Por vezes nem sei porque estou a chorar, é uma reacção do corpo a um stress qualquer! Sei que para mim, chorar é saudável e libertador! Tira-me um peso de cima! Então chorar e poder gritar de raiva, é o ideal. Fico-me apenas pelos soluços, pelos ranhos e roncos - esta fase já é dramática...

Em modos de conclusão - para não me alargar mais – depois deste dia em que não descobri a “posição ideal” para chorar, apercebi-me de algo interessante: a minha posição ideal para chorar é enquanto conduzo!! Esta conclusão caiu-me no pensamento – obviamente enquanto conduzia e chorava! Pode ser um perigo, mas para mim é a melhor posição. Criei esta intimidade com o meu carro, tornei-o sem querer, no meu confidente. Enquanto conduzo, estou entre as paredes do mundo e ninguém vê! É chorar no meio da multidão e continuar sozinha, é ter espaço para soluçar e roncar sem incomodar ninguém, é ter espaço para gritar fingindo que cantamos com o rádio, é estar completamente à vontade... É chorar acompanhada, mas sem companhia... É muito bom!
Espero que tenham percebido mais um devaneio dos meus. 

Quem chora com raiva, com vontade e sem complexos talvez me tenha percebido...

Espero que riam muito, e se chorarem, tenham prazer!

Eu, quando não choro, rio muito!! Felizmente, ainda rio mais do que choro!

Chorar é estranho, mas faz parte da natureza e da fraqueza humana – tal como a tesão! ;)

sábado, outubro 02, 2010

CANETA SEM TINTA


Para ti, onde quer que estejas...

Pego na caneta.
Caneta que escreve,
Caneta que pinta,
Caneta que fala, já quase sem tinta!
Escreve caneta que eu mando,
Este amor, este engano.
Escreve caneta que eu dito
Este amor que não grito!
Morreu-me a caneta na mão,
Sem tinta para falar,
Morreu meu coração,
Por não te poder amar.

AS

(curioso como a vida se repete. Mas este é do velhinho baú!)


segunda-feira, abril 19, 2010

EXORCISMO DA ALMA

Soltem-se os gritos, soltem-se as amarras do desespero, ansioso por se libertar deste corpo! Este corpo rijo e teso de tanta incompreensão! Precisamos de um caminho deserto e escuro onde nada nos impeça de gritar, de estrebuchar com o vazio, com o céu, com as nuvens, com as estrelas, com a terra e com as pedras que pisamos! Precisamos de um momento ausentes do mundo para podermos gritar desesperadamente com a vida! Dispam-se de injustiças , de incompreensões, de traições agonizantes, das raivas caladas diariamente e dos medos que nos petrificam os movimentos! Precisamos de estar a sós connosco, a sós com a natureza, a sós com a vida, a sós com o mundo. Precisamos de eliminar tudo o que nos rodeia para ficarmos livres no meio do nada - só nós! Totalmente e completamente livres!!

Precisamos apenas de um breve momento para sentirmos a nossa existência, para nos encontrarmos. Precisamos de nos sentir perdidos no meio de um breve momento de loucura, onde estamos completamente sós! Deixem-nos ser loucos, deixem-nos gritar e chorar por tudo aquilo que já não existe mas nos faz falta, deixem-nos caminhar pelo chão que nos foge velozmente por baixo dos pés, deixem-nos ladrar destemidamente ao medo e vê-lo fugir com o rabo entre as pernas. Dêem-nos espaço para sermos loucos!

Deixem-nos acreditar que este grito calado nas profundezas escuras da alma tem poder, que pode alcançar o céu e o mar, pode galgar montanhas e vales e chegar até ao infinito onde te procuro. Este grito que condensa toda a raiva, é um grito poderoso que acredito que até os surdos o ouvem, até os mortos se hão-de levantar assustados para ver quem grita assim! Tenho este poder dentro de mim e acredito firmemente que alguém virá não sei de onde, nem como, para me abraçar e confortar. Acredito neste poder que sei que não tenho, acredito em tudo, ou quero acreditar! Acredito em todos os impossíveis e chamam-me louca! Acredito que esta minha loucura me libertará! Deixem-me sair de mim e cair em mim...

Deixem-me sozinha mas não me abandonem. Quero ser livre, mas quero ouvir passos que me persigam, quero olhar para trás e ver uma estrada cheia de loucos como eu! Quero sentir outro respirar, outro louco, outro alguém que acompanhe a minha loucura e que a entenda!
Preciso caminhar por esta estrada fria e molhada, que me leva para lado nenhum, mas que me cansa e castiga os pés e o corpo. Preciso de me sentir viva desta forma incompreensível, desta forma degradada e lastimável em que já não pareço eu! Preciso de mim e da minha alma, quero sentir este poder de imortalidade que já não me assusta. Deixem-me encontrar a minha pessoa perdida no meio dos escombros. Ajudem-me a levantar pedras, procurem-me, mas em silêncio! Deixem que seja eu a encontrar-me!

Acredito que esta vida existe, acredito que outra vida existe. Acredito neste mundo e no outro, acredito em tudo e em nada! Sei que tenho que regressar a mim e ao meu corpo. Terei que voltar a sentir a dor nos pés e nas pernas. Percebo agora que as dores da alma são intoleráveis e é por isso que se solta este grito desesperado que precisa de espaço. Grito porque doí! Doí tanto e doí muito!

Depois de exorcizar as dores da alma, ficarei sem forças, ficarei exausta e por fim regressarei ao meu corpo castigado e abandonado, onde me querem encontrar. Estou aqui novamente. Regressei com força e coragem para dar a mão ao meu corpo e novamente caminhar por uma estrada que não sei onde me levará. Estarei atenta a todos os brilhos e perigos! Serei eu, com um pouco mais de mim! Serei eu livre nestes nestes momentos de loucura. Serei eu invencível e poderosa o suficiente para voltar a acreditar em mim e na vida. Para lá disto parece não haver mais nada. Outro dia voltarei a gritar, num outro deserto, à procura de mim. Num outro dia, em que a chuva novamente me lave e o vento de acorde! Regressarei calma a mim e darei um abraço ao meu corpo, afagarei as minhas mágoas e acreditarei que amo a pessoa que abraço.

A vida é isto. Um caminho escuro onde nos perdemos e outro onde nos encontramos. É andar perdido à nossa procura para depois nos abraçarmos...

Exorcizem a vossa alma, é nela que que se guardam todos os gritos calados, que soltos, nos podem libertar...

terça-feira, fevereiro 02, 2010

OBJECTO DAS SOMBRAS




Naquela casa enorme e fria, 
Habitam só sombras - é vazia. 
Entro. 
Vejo e cheiro o bolor verde 
Agarrado às sombras da parede. 
Sombras dos objectos inanes esquecidos por ali. 
Sigo com o olhar as sombras que aumentam, 
Trepam as paredes, 
Conforme o passar do dia. 
Quando a noite cai, a casa fica ainda mais vazia. 
Fica sem sombras - toda ela é sombra. 
Habita-a a escuridão e o silêncio. 
Ouve-se assobiar nas janelas o vento. 
Sinto os objectos ansiosos, 
Talvez por uma mão que ali passe
E movimente o ar frio,
Que num suave toque, lhes cause arrepio! 
Uma mão curiosa, uma mão atrevida, 
Uma mão medrosa, uma mão destemida, 
Uma mão de homem, uma mão de mulher, 
Uma mão de criança, uma mão de esperança, 
Uma mão delicada, uma mão calejada, 
Uma mão distraida...

Uma mão, 
Que ao passar,
Nos mude de lugar! 

AS