terça-feira, junho 05, 2012

AMADO VAGABUNDO


Amar um vagabundo parece impossível.

O vagabundo é um ser livre.

O vagabundo é um ser que vive só e não sabe viver com mais ninguém.
Chega-lhe a sua própria companhia, e a companhia das recordações, das saudades e dos amores perdidos. Alguns usam a companhia do cão vadio, para receber um olhar - olhos nos olhos - do único ser que os entende.
O Vagabundo conta só com ele. A vida dos outros não lhe interessa e a dele é pouco interessante, embora a maquilhe de algum interesse.
O Vagabundo faz o que quer, às horas que quer, quando quer, sem ter que dar justificações a ninguém. Não ter que dar justificações a ninguém, significa que algures no tempo, o pai e mãe, filhos, filhas, irmãos, primos, tios, sobrinhos, despareceram. Desapareceram da sua vida, desmaterializaram-se do seu pensamento.
Não ter ninguém é não ter antecedentes, nem precedentes. É também não ter amigos – a não ser o cão vadio – se o tiver! Não ter ninguém, é de facto ficar livre de dar satisfações a quem quer que seja - é um privilégio! - eu diria que é um hábito, um silêncio triste.

Amar um Vagabundo pode acontecer. Se acontecer pode ser tomado como uma tormenta. Mas podemos tornar tudo uma aventura: uma volta numa montanha russa sem manutenção de carris; uma viagem de canoa furada no alto mar; um mergulho dum penhasco a profundidade desconhecida; uma viagem de comboio sem bilhete e sem destino.
Por mais que queiramos cuidar deste Amado Vagabundo, o momento em que se consegue será efémero. Vamos sentir adrenalina mas apenas temporariamente - no instante. Vamos viver o momento sem pensar no momento seguinte. O momento do amor é aquele, naquele instante, naquele presente, naquele olhar - e não noutro qualquer - que há-de vir, ou não!
É neste olhar que se pode dizer que há amor. Dali para a frente não há mais nada senão a vida maquilhada lá fora. Estes olhares não se explicam, por isso ninguém entende. Entenderá, quem um dia amou um vagabundo - mas somos tão poucos!

Não adianta levar o Vagabundo para nossa casa com promessas de coisas que ele não quer. Para quê dar-lhe um banho e pô-lo perfumado, se ele só se reconhece e se conforta no seu cheiro? Para quê aparar-lhe a barba, se ele gosta de a coçar e lhe catar os piolhos? Para quê dar-lhe roupas novas se já tem as dele moldadas ao corpo? Para quê dar-lhe um tecto com paredes, quando ele aprecia ver as estrelas na aragem da noite? Para quê dar-lhe uma cama macia, quando o seu chão é confortável? Para quê? A casa do Vagabundo é a rua... para quê fechá-lo nas nossas casas?

Se amas um vagabundo, então pega em ti e vai para a rua... Torna-te vagabundo! Não, não faças isso. Cada um tem a sua natureza, a sua essência. Mas aproveita os momentos. Aqueles momentos opulentamente pobres, em que lhe serves uma sopa quente e ele elogia docemente o sabor. Aproveita o momento em que lhe dás um cobertor e ele te agradece meigamente o conforto dessa noite. Aproveita o momento em que pousas a tua mão na dele, e ele comenta emocionado, que "há muito tempo não me abraçavam assim".
Amar um Vagabundo é um momento fugaz. Vale  aproveitar o momento, em que olhos-nos-olhos, não há nada a dizer. Amar um Vagabundo é abrir as portas do coração na certeza de que um dia a liberdade o vai levar. É manter essas portas abertas, na esperança que a liberdade o traga de volta. Amar um Vagabundo pode ser, afinal, eterno. E é...

O Vagabundo pode dormir na nossa rua. Podemos vê-lo da nossa janela. Podemos confirmar a sua presença que nos tranquiliza. Podemos nem o ver, mas perceber que ainda vive na nossa rua. Ali, ele largou os seus sacos, os seus cartões de papelão, os seus farrapos fétidos - os seus mais estimados pertences!
Ali, na nossa rua, ele habita, ele marca presença. E só percebemos que foi embora quando, inesperadamente, vamos à janela e não vemos os seus pertences. Foi embora sem dizer nada.  Quem sabe volta. Quem sabe não volta mais. Quem sabe o que é feito dele?
Percebemos que foi embora, quando a luz da nossa janela já não o ilumina cá em baixo. Quando a nossa luz não faz falta, quando é indiferente estar acesa ou apagada. Reparamos que foi embora quando já não lhe dizemos "boa noite" em silêncio, quando apagamos a luz e vamos para a cama. Percebemos que foi embora quando já os nossos olhos se perdem desinteressados noutro canto da rua, onde não há Vagabundo, onde não há nada, senão boas distracções.
O Amado Vagabundo desapareceu desta rua. Esta rua já não é a mesma. A minha janela já não tem a luz acesa como antes – o que é triste. Tudo mudou. Mudou tudo nesta rua miserável sem Vagabundo! Parece trágica percepção da realidade. Para quê dramatismos? Na verdade está tudo na mesma, com excepção da presença dum simples Vagabundo!
Todas as noites passo pela janela e olho desinteressada para aquele canto da rua. "Não está. Não volta. Pode ser que volte".
Só me lembro dele quando apago a luz, antes de ir para a cama.

Não tenho saudades. Mas faz-me falta.
Todas as noites apago a luz, e a minha janela, desaparece na escuridão da nossa rua.   
- "Boa noite"

sexta-feira, abril 08, 2011

MATAR O AMOR



Não se pode matar o amor. Isto para mim é certo e inegável. O amor, não morre pelas nossas próprias mãos, ou pelo nosso querer. Não conseguimos ser assassinos cruéis dum amor que já não interessa, ou que apenas nos faz sofrer.


Porém, podemos mandá-lo para um canto escuro - onde fique esquecido, onde não tenha nem alimento, nem luz! Podemos mandá-lo para um canto sozinho, de castigo, onde esperamos que um dia cometa suicídio. 

Tratamos assim o amor, sem cuidado, nem razão. Poderíamos ser assassinos de sentimentos que já não queremos, por não saber o que fazer com eles. Mas não podemos fazê-lo. Certamente nos tornaríamos assassinos de sentimentos. Bem, eu já teria assassinado alguns...
Somos limitados nisso e ainda bem. 

O amor não é mais que uma criança, que precisa de mimo. Mimo, de quem ama verdadeiramente! 

O meu amor está no castigo - não o mimes, não o visites! Deixa que morra! 
Deixa que se transforme em algo que se chame apenas dor.
Deixa que se transforme em algo que se chame apenas saudade.
Deixa que se transforme em algo que se chame apenas momento.
Deixa que se transforme em algo que se chame apenas esquecimento!

O meu amor, pode não morrer pelas minhas mãos, mas certamente morrerá pelas tuas!


 Tiremos os nossos amores do castigo. Não os deixemos morrer!
Suportarias a dor?
as saudades?
sermos apenas um momento?
e cairmos no esquecimento?

Amar, não é deixar morrer.

AS

quinta-feira, abril 07, 2011

Os meus Cantos do Mundo

ESCRITA
Neste canto do mundo
Onde se fala em Poesia,
Eu deixaria de ser Silêncio,
E seria... Seria!

MÚSICA
Neste canto do mundo,
Onde se ouvem canções,
Eu deixaria de ser vazio,
Viveria de ilusões!

AMOR
Neste canto do mundo,
Onde habita a paixão,
Eu deixaria de ser sombra,
Seria um clarão!

PAIXÃO
Neste canto do mundo,
Onde vive o amor,
Eu deixaria de ser só,
Viveria sem dor!

AMIZADE
Neste canto do mundo,
Onde se encontra um abraço,
Eu deixaria de ter medo,
Andaria ao teu passo.

TU
Neste canto do mundo,
Onde existe a alma metade,
Eu deixaria de estar perdida,
Correria à vontade!

NÓS
Nesse canto do mundo,
Onde existimos Nós...
Seríamos tudo!
Eu, sou eu e amo-me!
Tu, és tu e amas-te!
Amamos!
Somos! Exisitmos! Vivemos!
Neste canto do mundo,
Tudo temos!

O mundo inteiro não é de ninguém...

Eu, apenas quero os meus cantos!!
E só isto... parece-me tanto!

A.S

segunda-feira, abril 04, 2011

NÃO DIGO, MAS SINTO

Quando alguém se mata no nosso coração, limitamo-nos a lamentar o acto, e o local escolhido para o fazer...


Sinto esse lamento, que é tormento! 
Um tormento desta inusitada culpa.

Sou apenas uma desculpa - em busca da minha culpa.
Que culpa?
Desculpa...

A desculpa que agora de nada vale!
Neste suicido há um morto...
Aquele que não fala, não ouve, não vê, não mexe... e naturalmente não perdoa!
Tu!


Resta-nos então o silêncio!
Calo-me, para que fiques em paz!
Na tua paz, no teu sossego - na tua escolha!
Deixo-te uma rosa vermelha,
Um poema,
Uma lágrima,
E vou-me embora...

Por fim, resta-me este sentimento:


"Obrigada por tudo e por tanto! 
Desculpa o defeito e o feitio.
Dei-te tudo o que tinha.
Agora, sou apenas e tudo isto.
Mas vou crescendo..."


AS

ENCALHEI

Encalhei,
Nesta noite ferrada de frio e silêncio.
Vejo na rua pessoas,
Que partilham solidão - nada mais.
Arrastam os passos, pesados e cansados
De falecidas esperanças.
Oiço os pássaros.
Oiço os cascos dos cavalos
E o chiar das rodas das carruagens,
Que preguiçosamente vão puxando.
Oiço o quebrar do gelo nos passeios,
Denunciando a presença de gente!
Não, não estou só!
Apenas está tudo estranhamente calmo, quieto - à espera!
Encalhei,
No silêncio dos olhares
E nas palavras que já nada dizem.
Encalhei,
Neste porto sem mar,
Neste mar sem barcos,
Neste barco sem leme.
Encalhei esta noite
Neste porto seguro. Neste porto sem nada.
Encalhei neste pensamento!
Nesta verdade!
Encalhei onde todos encalhamos - no fim de um sonho!
Encalhei na realidade!

AS

domingo, outubro 31, 2010

PASSA O TEMPO... FICA A ESPERANÇA

Dedicado a ti, que nasceste neste dia...

- O tempo passa, corre, foge e perde-se!
Esperamos que chegue,
Ou que volte atrás.
Nunca é o tempo certo - ou é muito cedo, ou tarde demais.
Ou se tem a mais, ou nos faz falta!
Somos no entanto, donos do tempo – do nosso tempo.
Mal nascemos, a primeira coisa que temos é tempo!
Contabilizamo-lo no relógio das memórias,
Das lembranças - alegres e tristes!
É assim que contamos a vida!
Tic-Tac – entre bons momentos e maus momentos!
Nesta contagem da vida,
Conta-me a mim, e conta-me sempre!
Vê-me como a criança que te habita,
O riso e o sorriso.
O teu espírito jovem, a tua alma esquecida.
A tua juventude que permanece pela vida.
Sou parte de ti!
Guarda-me no coração, na alma, no olhar – no teu altar.
Vê-me no teu reflexo do espelho.
Quando olhares para mim – olhos nos olhos,
Percebe que sou eu que te escondo as rugas
E os cabelos brancos,
Que te escondo a chuva do olhar,
Que te escondo o tempo perdido.
Não vejas a tua pele, vê para além dela.
Não me percas e não me esqueças.
Quando olhares para mim – olhos nos olhos,
Sorri - fizeste de ti o melhor!
Não insistas em ver a tua insignificância – nega-a!
Quando nos vires ao espelho,
Não fiques a admirar os teus defeitos,
Não fiques a perder esse tempo comigo.
Porq
ue o tempo passa, corre, foge e perde-se!

PARABÉNS! – fala-te a ESPERANÇA que nasceu contigo neste dia!

Vamos!? - eu e tu, viver a vida.

Para ti,
com tudo o que tenho.
AS

segunda-feira, outubro 25, 2010

CHORO... por tudo e por nada



Choro.
Choro em silêncio,
No vazio da nossa cama.
Um silêncio, com eco triste,
Que se enche de recordações.
Choro pelos sonhos
Que se desfizeram neste nada!
Este nada que era tudo,
Este tudo que se extinguiu - por tudo e por nada!
É por isto  que choro - por tudo e por nada!
Afinal nem sei porque choro.
Choro apenas.
Talvez por esta dor da solidão.
Choro por mim e por ti - choro por nós!
Em breves momentos,
Penso pacientemente
Que voltaremos a ser felizes.
Tu aí, eu aqui - distantes!

Mas não acredito nisso...E novamente,
Choro!


AS

sexta-feira, outubro 22, 2010

AMORES PARA SEMPRE


(aos meus 3 amores - ao último, ao do meio, e ao primeiro)

Navego neste mar de lembranças,
Sem saber para que lado remar.
Sem forças ou vontade,
Remo para a praia,
Onde me espera apenas

O nada e a areia molhada.
Remo do horizonte - onde me levaste
Para a areia fria - onde me deixaste!
Chego só e insegura à realidade.
Faço uma cova na areia molhada
Enterro ai esperanças e lembranças,
Misturo-as com o mar salgado dos meus olhos
Fixo o horizonte e saio desta praia.

Sei que nesta cova que fiz,
Jaz um amor feliz,
O meu, o verdadeiro,
O eterno - O primeiro!

Fiz mais viagens destas - de horizontes, para praias desertas.
Mas não voltei a fazer covas assim.
Trago tudo comigo,

Guardo tudo em mim;
No meu peito.
No meu abrigo!

Os amores não se matam,

Nem se enterram.
Não jazem em lado nenhum,
São fantasmas que nos abraçam,
À sua vez, um a um...

É assim que vos sinto,
Eternamente abraçados a mim.
Os amores não se esquecem
Porque é na alma que permanecem...
AS








terça-feira, outubro 19, 2010

SABER CUIDAR


No outro dia, em conversa com uma amiga, ela revelou-me que a sua palavra preferida do dicionário era “cuidar”. Inicialmente fiquei surpreendida por alguém ter uma palavra preferida no dicionário. Eu que gosto tanto de palavras, não tenho uma palavra preferida no dicionário!! Há loucos para tudo... Realmente, ter uma palavra preferida no dicionário não é coisa que se pense, ou que se saiba. Digo eu! Vocês sabem isto sobre vocês? 
Depois fiquei a pensar na palavra “cuidar”. É uma boa palavra!  À partida parece não dizer grande coisa, mas pensando bem, até tem algum sentido que se fale dela. A mim, fez-me pensar... E aqui está mais um devaneio dos meus: 


Nem gosto muito da palavra...  se tivesse uma palavra preferida seria “verdade”.
Tanto o “cuidar”, como a “verdade” não são para qualquer pessoa. Definitivamente eu não sou uma boa pessoa para cuidar de ninguém, mas sou óptima para dizer as verdades, mesmo que doam! Mentir não é comigo, detesto a mentira!! E detesto a omissão - que considero uma mentira...  Tenho uma certa dificuldade em distinguir a mentira de um segredo... Eu não minto (muito), mas tenho (muitos) segredos! Ocorre-me agora que “segredo” também é uma boa palavra!

Mas o verbo “cuidar”:
Cuidar de plantas para mim é desastroso, morrem todas, parece que ficam deprimidas com a minha presença! Sempre que olho para elas, estão murchas... Ou as afogo, ou as deixo secar! Na verdade, temos que conhecer as plantas para conseguir cuidar delas. São como as pessoas, temos que as conhecer para sabermos cuidar delas - amá-las, portanto!
Assumo que nunca me dei ao trabalho de conhecer plantas! Sei que a maior parte gosta de água e de luz, outras nem por isso. Mas só percebo que algo está errado quando estão numa fase terminal! E quando começam a morrer, pronto, desisto logo delas. Deixo-as padecer serenamente no seu vaso de terra... (isto até parece mal ser dito por uma engª do Ambiente, mas é a "verdade"!).
Gosto de plantas, de jardins, de flores, mas cuidar delas dá muito trabalho. Talvez não goste tanto assim, mas gosto de as ver bem cuidadas - por outros!
Cuidar de animais, parece-me mais fácil! Com animais safo-me mais ou menos, porque são seres vivos que se queixam - ou têm fome, ou têm sede, ou a areia está suja ou têm falta de mimo! Certos animais "falam"! As plantas não! Tenho 2 gatos que amo. Também tenho um aquário de água quente com peixes, mas como os peixes não se queixam, volta e meia lá aparecem afogados no aquário... Sou um desastre a cuidar do que quer que seja! Não se preocupem, os gatos estão entregues aos cuidados duma amiga, são mais dela que meus! Pronto, são dela! Os peixes, paciência, estão ao meu cuidado! Mas como sabem, os peixes tem um tempo de vida curta, não percebo se morrem de velhice ou de fome. Acho que é de velhice, ou pelo menos é nisso que acredito. Se fosse de fome, morriam todos! De fome não devem morrer.. eles bebem água, ou comem as cacas uns dos outros... (penso eu, quando vejo algum a boiar). Vá morre um de vez em quando, e são daqueles mais pequeninos... não é muuuuito grave! O aquário tem muito espaço (90 Litros), também não morrem de falta de ar! Morrem de velhice, sem dúvida!
É frustrante ter esta limitação de não saber cuidar... Mas pronto, ao menos sou uma pessoa que assume as limitações!

O que eu consigo fazer mais próximo de “cuidar” é “tomar conta”. Mas na realidade são duas coisas completamente diferentes! Cuidar é contínuo no tempo, tomar conta, é uma coisa temporária... Para cuidar é preciso ter arte, é preciso ter nascido com essa capacidade, com esse dom! Eu, definitivamente, não nasci nem com a arte, nem com o dom! Cuido por preocupação e por amor... Tirando duas ou três pessoas que amei e cuidei, não tenho paciência para cuidar de nada nem ninguém! É que do meu ponto de vista, cuidar dá realmente muito trabalho, esgota-me! Tem que se conhecer o que precisa de cuidados e tem que se ter muita paciência. Paciência também é coisa que Deus se esqueceu de meter no meu pacote... é pena! (já tive menos!).

Sei que não é uma limitação apenas minha, mas de meio mundo! Nem toda a gente sabe cuidar de mim... Algumas pessoas foram uns completos desastres nessa arte! Eu sei que sou uma chata, e uma mimalha – saí à minha avó!! Mas não sou só eu que não sei cuidar, há muita boa gente que não sabe fazer isso!! Diria até, a maior parte das pessoas não sabe cuidar! São raras as pessoas que o sabem fazer, e estarão em vias de extinção! Tudo o que dá trabalho e não tem retorno visível é de descartar. A maioria das pessoas quando dá, espera! - é assim o ser humano! Portanto, cuidar só pelo prazer de cuidar, parece-me que é só para os santos.. e para as mães (algumas!). 
Por exemplo, cuidar da minha avó que amo e amo dá muito trabalho, porque ela é muito exigente, tem muito mimo... mas às vezes “tomo conta” dela... Atenção! - não cuido, tomo conta!! Cuidar, cuidar, cuida a a minha tia! A minha tia também sabe cuidar muito bem de plantas... São pessoas especiais, pronto! Esta minha tia deve ser santa... é!!

E será que fazendo um esforço conseguimos cuidar bem das coisas? - Conseguimos, mas lá está, temos que fazer um esforço! Já pressupõe sacrifício, já se cobra, já nos cansa... Há aqueles que o fazem por prazer, sem esforço! Não cobram, nem se queixam... Cuidar deve cansar imenso o espirito e o corpo. Não acredito que alguém cuide sem dizer um “ai”, talvez os santos que já estão nos altares das Igrejas... Aos outros chamamos-lhe os benfeitores, os enfermeiros (alguns, que outros são umas cavalgaduras, como diz a minha avó!), os assistentes sociais, os padres, os voluntários, os professores, as amas... Bem, estou agora a pensar que há profissões que exigem que se saiba cuidar, mas a verdade é que nem todos o sabem fazer, nem mesmo depois de aprenderem durante o curso como se deve cuidar!! (não sei se há alguma cadeira na universidade que se chame “como cuidar”, acho que não!) Há médicos, enfermeiros, professores, padres, assistentes sociais e amas, que são autênticas bestas, acho que até eu fazia melhor! Distingue-se os excelentes profissionais, dos profissionais normais conforme a aptidão natural para as coisas que fazem. Há o professor e o excelente professor! Há o enfermeiro e o excelente enfermeiro! Há o médico e o excelente médico, o advogado e o excelente advogado... por aí fora! A diferença de um para o outro é a paixão e a dedicação com que fazem as coisas - o fazer com dom, ou sem dom! Eu não tenho dom nenhum, se o tenho, ainda não o descobri. Não sou excelente a fazer nada, mas sou um desastre a fazer muita coisa! Bem, eu tenho dons, mas são realmente inúteis!

Para cuidar, é preciso ter paixão! E ter paixão para cuidar não se aprende na Universidade! Eu detesto enfermeiros, sempre com a ponta da agulha para nos enterrar no rabo! Venha com paixão, ou sem paixão! Ou o médico, sempre com o pauzinho pronto para nos enfiar na garganta! Ou com as luvinhas para abrirmos as pernas! Venha com paixão, ou sem ela... Gosto de ouvir um professor com paixão... Gosto de ouvir uma mãe apaixonada pelos filhos. Gosto de um advogado que defende com paixão... Gosto de pessoas apaixonadas pelo que fazem! Depois há profissões que nos conquistam mais que outras. Um excelente enfermeiro até me pode falar da forma apaixonada como cuida dos doentes, mas não me venha cá enfiar a agulha nas veias e dizer que vai cuidar de mim, que não me encanta!! Um excelente professor sim, encanta-me só por me ler uma história para crianças... Eu não falo com paixão sobre nada, falo é de uma forma apaixonante sobre tudo! (disseram-me isto e ainda hoje penso se foi um elogio, se foi uma crítica).

Ora, entendo que quem cuida, ama! E amar quase desconhecidos, (os doentes, os filhos dos outros, os desprotegidos, os abandonados, etc, etc) não é para mim!
Se uma amiga minha me perguntasse se podia tomar conta dos filhos durante a noite, não teria qualquer problema! Eu sei tomar conta, é só olhar por eles. Brincar um bocadinho, dar de comer, dar um soníforo para dormirem e já está! Agora cuidar... Não me venham cá pedir isso! Eu sei muito bem a diferença quando oiço estas palavras; “tomar conta”, “ter cuidado” e “cuidar”! O “cuidar” é a única que me assusta...

Gosto que cuidem de mim, e têm que o fazer bem feito!! Como eu faria! Como faço com a minha avó, ou como a minha avó fazia comigo. E até sou exigente, porque sei que quando cuido, cuido muito bem! Eu sou muito extremosa com as pessoas que amo, não lhes falta nada no leito da doença, mas lá está, é um curto espaço de tempo – enquanto estão doentes! E rezo para que lhes passe rapidamente – por eles e por mim! Quando amo muito, desejo até ficar com as suas dores (só me aconteceu uma vez e era porque a dor me parecia suportável – era uma paralitica dolorosa nas costas, ou lá o que era aquilo!)

Resumindo, “cuidar” não se aprende. Nem se ensina! Está na alma das pessoas. A minha alma também não pode ter espaço para tudo... Infelizmente tem espaço para muitas coisas que não servem para nada! Senão eu seria um ser quase perfeito, e só eu e Deus sabemos os defeitos que tem a minha alma... As qualidades são muitas mas até agora não me serviram para nada – são fraquinhas! Os defeitos não, esses são defeitos como deve de ser – em grande!

Olhem, eu nem de mim sei cuidar, para quanto mais cuidar dos outros. Não percebo quando alguém precisa dos meus cuidados! Só se estiver a morrer, e tem que me dizer... e mesmo assim, sou capaz de fazer algum disparate! Eu sou do melhor que há, sou um desastre ambulante! Sou aquilo a que as minhas amigas dizem uma “estás-te a cagar!” Não é que esteja, mas pronto, sou distraída! É que não percebo onde doí, porque doí, como aliviar a dor... Sou meia homem!! Cabeça no ar, desinteressada e desastrada... Acho que é a minha frontalidade que me torna um desastre, a verdade magoa e por vezes é inútil... Mas sei dar bons conselhos! Chamem-me o que quiserem, mas não é por aí que se mede a amizade, ou amor que temos pelas pessoas! Eu gosto e amo, mas não o faço de uma forma atenta e carinhosa... Não saberei amar.. Faço-o à minha maneira! Mas eu sei dar mimo! Mimo bom, mas é durante pouco tempo! E quem gosta de mim, bem sabe que eu sou assim!! Se eu fosse de outra maneira deixava de ser eu, certo? Qual era a piada?

E ainda... “cuidar” do meu carro! - não sei cuidar dele... Parece que é o carro dum homem das obras, mas ninguém gosta mais do meu carro que eu!! E bem estimado que está! Ainda anda depois de tantos trambolhões que deu! Acompanha-me há 15 anos - desde sempre - e não o trocava por outro! Nem ele a mim! É amor ao carro, mas lá está, não sei quando mudar o óleo, quando mudar os pneus, quando mudar as pastilhas... ele que se queixe - que é o que faz – e aí, sim, tenho que cuidar! O verbo cuidar é quase transversal na vida - temos que cuidar de nós próprios, dos outros e das coisas! Daí a dificuldade...

Esta minha limitação, confesso aqui, provoca-me pavor a pessoas acamadas, ou a deficientes! Não me peçam por favor para cuidar destas pessoas! Morriam nas minhas mãos, é que era logo! Pumba! Morriam! É por isso que admiro muito as pessoas que sabem cuidar destas. Admiro mesmo! Não as entendo, mas admiro-as! Porque é que não tenho filhos? É mesmo por saber esta limitação, saberia lá eu cuidar de uma criança... Dizem que o instinto maternal vem e tal, que aprendemos sozinhas, que nasce em nós... e se não nasce?! Entrego a criança à amiga, como se fossem aos gatos, não?! É grave, é muito grave esta limitação... Eu poderia ser um excelente pai, mas mãe, não me estou a ver... E pai, parece-me impossível! Portanto, mais vale estar quieta – não virgem – mas sem filhos! Graças a Deus, nem sequer tenho o instinto maternal, como algumas amigas da minha idade.. Coitadas! Elas que os tenham que eu vou visitá-los! Safa! E se for preciso até tomo conta deles... Cuidar, esqueçam! Eu sou terrível com as crianças, sou pior que elas, deseduco-as num instante, mas adoram-me! Caras amigas, crianças não cuidam de crianças, tá!? Crianças juntas fazem disparates, divertem-se! 
Amo uma criança, divirto-me com ela e adoro os disparates! Desta criança não me importaria de cuidar, mas é porque a amo! Conheço-a, sinto-a. Sei que ao tomar conta dela, estaria na verdade a cuidar! É preciso uma amor profundo para eu cuidar sem perceber que estou a cuidar. É um cuidar inconsciente, provocado pelo amor! Percebem-me? 

Não vamos confundir amor, com amizade! Amizade, é uma cena muito diferente de amor, não me venham com filosofias... Eu felizmente sei o que é o amor e sei o que é a amizade! São coisas completamente diferentes... Sentem-se coisas diferentes, agimos de formas diferentes. Amo melhor do que sou amiga - amo com uma entrega constante, sou amiga com uma entrega intermitente! Não sou a excelente amiga, mas adoro os meus amigos! São assim a coisa mais importante para mim, mas não posso cuidar deles... Não posso porque não consigo. Tenham paciência, só eu sei o que lamento ser assim! Nasce-se assim, com esta deficiência!

Bem, resumindo; eu para cuidar preciso de amar! Amar, amar! Amar de amor, de paixão, de companheiro, de amante... Esse amor, que nos enlouquece, que nos transforma, que nos muda, que nos faz melhores sem darmos por isso, que nos faz desejar as dores do outro...

E pronto, não disse nada daquilo que pensei que ia dizer, mas disse mais uns disparates, certo?!

Todos temos um papel a desempenhar neste mundo... talvez a palavra preferida no dicionário esteja relacionada com isso, não sei.
Pensem na vossa palavra preferida no dicionário e quem sabe não concluam alguma coisa sobre vocês. 


quarta-feira, outubro 13, 2010

CÁLICE DE AMOR



Bebi deste cálice vazio
A bebida mais espirituosa,
A que mais me embriagou.
Não tem álcool, nem açúcar,
Não é doce, nem salgada,
É pura - mas não é água!
Tem gosto a felicidade
Um travo de paixão,
Sabor de desejo
Pitada de solidão.
Cheira intensamente a saudade
Mas a cor nada nos diz,
Bebe-se devagar
Enquanto nos faz feliz.
É uma bebida diferente
Que enche o copo de muita gente.


É a bebida do coração,

Com sabor amargo - a casca de limão!

- É um cálice de amor... sem limão, se faz favor!

Brindemos!
Saúde!