segunda-feira, agosto 25, 2008

Decepção

À medida que o tempo passa reparamos que tudo o que era certo no passado, deixou de ser certo hoje, aliás há coisas que perdem completamente o sentido. É o que se diz vulgarmente “a vida dá muitas voltas”
Hoje falo-vos da decepção. Decepção no geral.
Decepção será uma mágoa que se trás no peito, uma dor fininha que nos acutila, um silêncio angustiante que nos belisca para falarmos, mas sentimos que não o devemos fazer. Por vezes a decepção vem ter connosco devagarinho, a passo e passo e quando damos conta já estamos decepcionados. É um desconformo que nos rouba a paz de espírito. Às vezes é uma decepção connosco mesmo, um desentendimento.
Esta decepção que sinto é em relação às pessoas que fazem parte do nosso mundo, do nosso dia-a-dia, que fazem parte da nossa vida. Naturalmente a nossa vida não é estática, pelo menos espera-se que não caia nessa estagnação. E quando se vê de fora a evolução de uma vida, parece que não sabemos como lidar com essa pessoa, e estupidamente deixamos de lhe falar porque... está diferente?! Porque não é a mesma? Porque nem sequer nos damos a hipótese de percebermos que a única coisa que mudou foi a vida da pessoa e não a pessoa!
É isto que sinto, admito que a minha vida mudou um pouco, e de facto tive que fazer adaptações da rotina do meu dia-a-dia, e não adaptações de personalidade! As pessoas que nos rodeiam e nos conhecem não percebem isso? Talvez não...
Afinal não passam apenas de pessoas que nos rodeiam, não serão propriamente amigos. São simplesmente pessoas que fizeram parte da nossa vida. São simplesmente pessoas com quem rimos, com quem choramos, a quem confiamos alguns dos nossos segredo, a quem pedimos ajuda, a quem convidamos para comer lá em casa, por quem não nos importamos de abrir a nossa melhor garrafa de vinho, por quem nos levantamos mais cedo para ir buscar ao aeroporto, por quem temos sempre as palavras certas sem saber que as tínhamos, por quem sentimos carinho, por quem torcemos, a quem apoiamos incondicionalmente, com quem não nos importamos de partilhar o silêncio, por quem sentimos amor e carinho... Finalmente, por quem choramos quando se afastam, por quem avaliamos as nossas atitudes, por quem choramos de raiva por nos terem abandonado! Por quem não valeu a pena dar tanto de nós... São estas pessoas que chamámos de amigos. Mas agora fazem parte de um passado, e é lá que as devemos guardar, porque no presente não passam de pessoas distraídas. Pessoas que nos vêem a ir embora e nos deixam ir, sem deixar cair uma lágrima.
Analisando bem, não devemos ficar presos a uma memória do passado porque foi fixe! Foi fixe no passado, e nesse passado essa vivência fazia sentido. As pessoas que fizeram parte do nosso passado não tem o direito de nos magoar em memoria desse passado. E nós não devemos viver um presente com pessoas que nos magoam só porque no passado nos foram muito queridas. É que este presente, será o futuro, e no futuro não quero ter memórias tristes. É assim que decidi encarar a vida. Contando comigo, aprendendo com os outros. É assim, que as pessoas caem no precipício da solidão. É assim que nos apercebemos que vale sempre a pena sermos bons para os outros, porque saímos sempre a ganhar. Devemos ter sempre para dar, mas não esperar receber, para não nos magoarmos.
Recuso-me a viver uma vida cinzenta, sem autenticidade. Gosto de dar, mas não vou esperar receber. Eu só não quero ser magoada, quero ser feliz por dar, sempre fui feliz no dar e infeliz no receber porque o esperei. É o nosso erro, esperar do outro. Não devemos esperar nada, porque se for mesmo nosso amigo dará sem o pedirmos e sem o esperarmos.
Estou magoada, mas com força para continuar em frente, afinal de contas quem fica a perder são os que ficam pelo caminho, são os que ficam no caminho das recordações.
Há aqueles que não fazem simplesmente parte da nossa vida, mas fazem parte de nós. Esses sim, vale a pena arrastar connosco. Que façam parte do nosso passado, do nosso presente e do nosso futuro. Há pessoas que permanecem porque as guardamos no coração, mesmo que longe, é sempre com um sorriso que as recordamos. São essas que nos fazem falta, que nos fazem feliz.
O difícil é avaliar quem faz parte da nossa vida e quem faz parte de nós. Quem vale a pena carregar no coração e quem vale a pena guardar numa memoria colorida. Aqui cresce o medo de errar, e talvez a escolha no passado tenha sido um grande erro.

“É muito bom ter amigos, mas é difícil ter que aprender com eles as coisas duras da vida! Ter que crescer e seguir em frente sem eles!”
AS