terça-feira, fevereiro 02, 2010

OBJECTO DAS SOMBRAS




Naquela casa enorme e fria, 
Habitam só sombras - é vazia. 
Entro. 
Vejo e cheiro o bolor verde 
Agarrado às sombras da parede. 
Sombras dos objectos inanes esquecidos por ali. 
Sigo com o olhar as sombras que aumentam, 
Trepam as paredes, 
Conforme o passar do dia. 
Quando a noite cai, a casa fica ainda mais vazia. 
Fica sem sombras - toda ela é sombra. 
Habita-a a escuridão e o silêncio. 
Ouve-se assobiar nas janelas o vento. 
Sinto os objectos ansiosos, 
Talvez por uma mão que ali passe
E movimente o ar frio,
Que num suave toque, lhes cause arrepio! 
Uma mão curiosa, uma mão atrevida, 
Uma mão medrosa, uma mão destemida, 
Uma mão de homem, uma mão de mulher, 
Uma mão de criança, uma mão de esperança, 
Uma mão delicada, uma mão calejada, 
Uma mão distraida...

Uma mão, 
Que ao passar,
Nos mude de lugar! 

AS