quinta-feira, janeiro 29, 2009

A CARNE É FRACA?


(Vamos enquadrar este meu devaneio numa situação em que existe um compromisso, com amor, entre duas pessoas).
Há situações que nos levam a dizer que a “carne é fraca…”. Não percebo porque se diz isso. Que culpa tem a carne das nossas fraquezas? Fracos somos nós, enfraquecemos quando não sabemos o que queremos, esta é a verdade. Porque quando se sabe o que se quer, não há carne, nem espírito, nem alma que nos impeçam de fazer o que está correcto.
Quanto a mim, esta expressão é vulgarmente usada como desculpa do pecado sexual, o que mais me admira é que é aceite como desculpa. Toda a gente compreende que a carne seja fraca. Quem num momento ou noutro não sentiu uma atracção pelo colega de emprego, pelo médico, pelo vizinho do lado, pelo pai da melhor amiga, pelo namorado da mãe, pelo amigo da irmã… Sei lá, aparecem na nossa vida tantas pessoas com “bom aspecto”… olhamos e comentamos “até se comia!” – carne!

Até aí, tudo bem… mas sentir isto quando se é comprometido já é mais complicado! Descompliquem! Então não temos todos o direito a sentir atracção? Temos! E é por termos um compromisso que essa parte de nós morre, deixa de reagir? Evidentemente que não, é natural, fisicamente e cientificamente provado que acontece a todos!! Quer admitam quer não! Obviamente que no fogo da paixão só sentimos atracção pela paixão, senão não era paixão! Mas quando a paixão se transforma em amor, e depois num amor mais maduro e assumido… A atracção alheia acontece!

Agora, dizer que a carne é fraca quando na verdade o que se passa é a nível emocional, isso é que não! Não me venham cá dizer que um envolvimento emocional por exemplo; o querer estar nos braços de outra pessoa, o querer olhar os seus olhos, partilhar um por de sol ou um momento de silêncio, o querer tocar levemente as suas mãos, o sentir o coração a palpitar durante um abraço, o sentir borboletas no estômago quando os olhares se cruzam, é carne!! Ora não me lixem!! Isso não é ter a carne fraca, isso é ter um compromisso fraco! A partir daqui obviamente que dizer a “carne é fraca” não serve como desculpa de nada! Uma coisa é carne, outra coisa é espírito! Porque a carne não se entrega, não se envolve, não se partilha, a carne come-se, enquanto se come dá prazer (ou não!) e depois levantamos da mesa e vamos embora. É como ir a um restaurante comer e voltar para casa, perguntar à mulher o que fez para o jantar, comer novamente, gostar, adormecer feliz com a última refeição e nem sequer pensar na refeição do restaurante!
Agora, espírito… não! O espírito envolve muita coisa, ui… ! O espírito é onde se guarda toda a nossa essência, o nosso ser, as nossas emoções, e o pior… as pessoas com quem estamos emocionalmente envolvidas. Ora, o espírito pressupõe uma entrega verdadeira e honesta do nosso eu! Quando o que se sente é isto, sim, preocupem-se!
Não há baralhação possível relativamente a estas duas situações, não há como baralhar!! Um leva-nos a fazer sexo, outro leva-nos a fazer amor, mesmo que não haja sexo! Portanto, traição por traição, mais vale que seja efectivamente porque a carne foi fraca, e não porque o espírito foi forte demais…
Obviamente que a entrega de espírito nos pode levar também a entregar corpo, mas isso é pormenor que deixa de ter importância. Quando o espírito for entregue, o corpo também já foi, portanto… “a carne é fraca” não desculpa nada de nada! Aliás, nestas situações compreendo que não há nada a desculpar mas a compreender, a aceitar, ou não! Nestas situações nem sequer há lugar para o ciúme, mas para a dor, a tristeza e a mágoa.
Digo convicta que somos nós que mandamos no nosso corpo, portanto podemos perfeitamente controlá-lo! No nosso espirito não... Trata-se de um poder e uma limitação do ser humano; controlar o corpo e não controlar o espirito, portanto surge-me uma pergunta; o que é que custa mais a perdoar afinal? Uma traição de corpo, ou uma traição de espirito?
A desculpa duma traição jamais será sincera?
ou
O amor é um sentimento que perdoa a culpa?

quarta-feira, janeiro 28, 2009

NADA DURA PARA SEMPRE

Durante um olhar perdido no tempo, especificamente no passado, facilmente concluímos que nada é eterno, nada dura para sempre. Talvez o amor de mãe, mas até este sentimento sofre mutações, o tempo e a vida ensinam a amar um filho de forma diferente, embora se ame para sempre. Mas aquele amar de mãe de poder proteger nos braços, do poder abraçar, do poder mimar… isso mais tarde ou mais cedo acaba. Os filhos começam a ver as mães com outros olhos, quebra-se a infatilidade, e tudo o que era um abraço eterno de ternura e amor entre mãe e filho, passa a ser um abraço com muitos outros significados, isto é, se ainda existirem abraços!. Digo que acaba, porque muda… E uma mudança é o prenúncio do fim de alguma coisa.


Pergunto-me se realmente as coisas têm que ser assim. Não têm, mas de facto são assim e contra isso nada podemos fazer. A única coisa que se pode fazer é aproveitar ao máximo o tempo de duração de cada um destes momentos que gostaríamos que fossem eternos. Saber aproveitar estes momentos é uma arte que poucos têm. Mas é uma arte que se aprende com a vida e com as pessoas que deixamos entrar nela. Tudo se aprende se tivermos disposição para tal.
Dou-me conta que talvez seja esta certeza inconsciente de que nada dura para sempre que nos permite dar valor àquilo que mais amamos. Ninguém quer perder o que ama, mas já se sabe que se vai perder, por isso valoriza-se, respeita-se e cuida-se. O que se afastar muito disto, por certo não será amor. (digo eu, que nada percebo deste sentimento!)
O vislumbre dum horizonte que diz “fim” assusta, mete medo. O desconhecido assombra, o perder algo que nos faz feliz angustia. E assim acabamos por forçar a existência de coisas que já terminaram, iludimos a alma com abraços de corpo, dizemos ver magia quando afinal vemos é o truque. Tentamos aumentar a distância entre nós e o horizonte, aumentamos a extensão de mar, pintamos o céu de várias cores, vemos vários por-de-sol… e ficamos assim até que a nossa presença nesta paisagem se extinga.


Bem, à partida parece um pensamento pessimista e sem esperança, mas não é! Reparem que não durando para sempre, até o que é mau acaba!


O meu ponto de vista é que não dura porque muda e uma mudança nem sempre significa uma alteração para pior. Tudo depende da forma como gerimos a vida e os sentimentos, tudo depende da nossa capacidade de adaptação a novas situações. Na realidade, tudo depende de nós e não daquilo que se extingue, seja um sentimento, um animal de estimação ou uma pessoa querida.


Grave é se nos extinguirmos ainda em vida, acontece a quem não sabe o que quer, a quem não luta pelo que quer, a quem depende da extinção do outro. Acontece a todos termos extinções momentâneas, apagamo-nos, ficamos desorientados… E nesses momentos de mudança encontramos sempre o princípio de alguma coisa, será um princípio surpreendente provocado por um fim que nos angustiou.

Portanto, o fim, a mudança e o principio regem o nosso ciclo de vida... e é esta a nossa montanha russa sem bilhete pago! Fazemos a viagem simplesmente porque estamos vivos... Ficamos sem ar, vomitamos, enjoamos, gritamos, rimos, suspiramos, aprendemos, e o mais importante de tudo... crescemos!


Aproveito para desejar a todos um excelente ano de 2009.


O ano que acabou pode ter sido muito mau ou bom, mas nada nos diz que este não seja melhor. De certeza que será diferente!


Hoje passei por aqui só para dizer isto…


Um abraço