sexta-feira, março 06, 2009

A CRIANÇA QUE NOS HABITA

Chegamos a adultos sem dar por isso. Ainda ontem era uma criança, dei um salto por cima de alguma coisa que desconheço, e subitamente olho para mim e sou adulta! É um processo radical, talvez comparável ao nascimento, em que, sem darmos por isso, ao passar por um canal de luz, passamos de seres não identificados para gente pequenina!

Alguns de nós fomos adultos à força e sem darmos por isso, esquecemo-nos da criança que fomos. Perdemo-nos dela no percurso da vida, na realidade, abandonamo-la algures.

Disseram-me no outro dia, que as crianças despertam em nós um sentimento de ternura e protecção, que os adultos não despertam. Eu compreendo isso. Mas talvez isto aconteça a pessoas que estejam habituadas a trabalhar com crianças diariamente. E as que não estão? É natural que um adulto desperte em nós esse sentimento de ternura, protecção e carinho incondicional, certo?

E depois pensei, realmente quando sinto isto em relação a um adulto é porque me dou conta que dentro desse adulto habita uma criança, dentro desse adulto há qualquer coisa de frágil e sensível, de pureza e de inocência. E quando encontramos esta criança dentro dum adulto, há então espaço para sentirmos vontade de o proteger, de o mimar e confortar. E sem nos apercebermos disso o nosso abraço conforta essa pessoa, como o abraço de um adulto, conforta e protege uma criança. É indiscutível… Penso até que esta manifestação de protecção e carinho é comparável ao amor.

Parece mágico um abraço assim, não sei se já experimentaram; um adulto que abraça a criança que habita no outro adulto; a criança que nos habita que é abraçada por um adulto; e melhor que tudo, duas crianças que habitam dois adultos que se abraçam perdidas, e se sentem protegidas.

Para experimentar esta sensação, basta encontrar no outro a criança que o habita, basta encontrar em nós a criança que fomos e mostrá-la sem receio da sua fragilidade e inocência.
As crianças são todas inocentes, não fazem juízos de valor, é por isso que no seu abraço não há avaliação disto ou daquilo, é apenas um abraço que tranquiliza e dá paz no meio da guerra dos adultos.
E este abraço é tão bom!

Era este o nosso abraço, quando conseguíamos ver as crianças que nos habitavam. Elas continuam cá, eu sei, eu sinto.
O mundo dos adultos é que nos cega, rouba-nos a esperança que se tem sempre que vemos uma criança...

Uma criança dá-nos esperança. Não percas a tua, não percas a minha...

Despeço-me...

O nosso abraço, puto!


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