quarta-feira, dezembro 03, 2008

Vestidos de Corpo e Alma

Por vezes saímos à rua despidos. Ou vamos sem alma, ou vamos sem corpo…
Por vezes esquecemos o casaco, deixamos o cachecol, deixamos as luvas quando lá fora neva. Mas vamos andando, marcando as passadas no caminho, vamos em desalinho, esquecendo o frio, esquecendo o mundo, esquecendo tudo. Sabemos apenas que caminhamos porque os nossos passos marcados na neve nos perseguem.
Por vezes vamos para a rua, mórbidos de cansaço, doentes de angústia, sem saber para onde ir, e por onde ir. Mas caminhamos, continuamos a marcar as nossas passadas.
Por vezes, olhamos para trás e as passadas desapareceram no tempo, não sabemos de onde viemos, não sabemos como aparecemos aqui, não sabemos quem somos.
Somos corpos despidos, por vezes de alma, por vezes de corpo.
Escolhemos a roupa que nos fica melhor para este dia ou aquele. Se hoje a alma me aperta não a visto. E quando é o corpo que nos fica largo, também não! Não vestimos o que não nos serve, o que nos fica mal, o que nos desfavorece…
Vestimos e despimos, e neste vestiário, olhamos o espelho e não percebemos que nesta troca de roupa perdemos os melhores momentos.
Se este dia estiver destinado para enlaçar a minha alma à tua, quero ter a alma vestida, se estiver destinado a abraçar o teu corpo, quero ter o corpo vestido… porquê arriscar a ter a roupa errada na hora certa? O destino nunca se sabe, por isso para quê arriscar andando meio despidos?
Por vezes, saímos de casa à pressa e vamos pela rua fora distraídos, completamente vestidos! É nesses dias que vale a pena sair à rua… mesmo que a roupa nos pese!
Nestes dias estamos presentes de “corpo e alma”, nestes dias estamos visíveis para tudo e para todos.

Nestes dias realmente existimos!

1 comentário:

Tentativas Poemáticas disse...

Olá amiga Sofia
Este texto tocou mesmo no meu roupão, porque tanto a alma como o corpo estão fora dele. Sou apenas um roupão. Há imenso tempo que não saio, não convivo, a não ser virtualmente.
Gostei muito.
Beijinhos
António