quarta-feira, maio 14, 2008

Conversa de "saca-rolhas"

Por vezes caímos num cenário surdo, onde se encontram duas personagens mudas. É um stress, temos que arranjar um desbloqueador de conversa… insuportável! Acontece quando as pessoas não se conhecem muito bem e não têm assunto. O mais natural do mundo.
Só deixa de ser natural quando as pessoas já se conhecem. É aquele silêncio desconfortável, do género “preciso dizer isto, mas se abrir a boca vamos discutir, é melhor estar calada”, o outro com certeza estará pensar “espero bem que não fale daquele assunto que não sei que dizer”… e pronto cá está o cenário surdo, e as pessoas mudas. Abram as cortinas que o teatro vai começar!! Se o público ouvisse os pensamentos dos actores certamente soltava gargalhadas pelo ridículo da cena… ou não!
Por vezes surgem aquilo a que chamo a conversa de “saca rolhas”. Destas conversas o que se deve entender é tudo, e nada - tudo o que não se diz, e nada que se aproveite!!
No outro dia tive uma conversa destas com um desconhecido. Sim, uma conversa de “saca rolhas” só se tem com desconhecidos, ou meio conhecidos. Nem sei, mas com amigos não se tem este tipo de conversas certamente!
Ora, o que é para mim “saca rolhas?” É tentar sacar da outra pessoa alguma informação; “então, novidades?”, “não contas nada”, “não perguntas nada”, “como está a correr o trabalho?”, “estás muito calado…” etc. E depois surge a questão na nossa cabeça, se não falas, não dizes nada porque marcaste este café? Ah, atenção ao pormenor, é que afinal eu fui beber café contigo! Das duas uma, ou estou interessada num desconhecido, ou já és meu amigo! Estranho… és mesmo meu amigo! E estamos a ter uma conversa de “saca-rolhas” porquê?
É do pior, que pode acontecer! Parece o surdo e o mudo a querer comunicar, só ao estalo!
Resumindo, o que se passou foi que o meu amigo não tinha nada para dizer, passou pela minha vida nesse momento só para olhar certamente… Bem, até hoje ainda não percebi o porquê daquele café, mas desconfio…
Quase a chegar a casa compreendi que aquele silêncio seria uma despedida. Que aquelas últimas palavras silenciadas seriam um adeus. E senti-me vazia! Perdi um amigo… perdi mais que um amigo, era uma pessoa importante na minha vida, mas desceu naquela estação para ficar, e eu decidi continuar viagem. Talvez um dia nos encontremos numa outra estação, numa outra vida…. Tenho pena de o ter deixado para trás, eu insisti para me acompanhar, mas quando não se quer, não se insiste. Ficou e eu deixei.
Adeus meu querido. Gosto de ti, espero que um dia percebas isso.

Se um dia se sentarem ao lado de um amigo e sentirem que o silêncio vos incomoda… levantem-se, vão buscar uma garrafa de vinho e bebam os dois. Só assim o saca rolhas será bem vindo numa conversa de amigos. E quem sabe, mesmo que se inicie uma viagem em sentidos contrários, sempre podem brindar e dizer “gosto de ti, sinceramente” – o que fica por dizer é tudo!

1 comentário:

Cláudia disse...

Acredito que não se perdem amigos por estarem em diferentes estações da sua viagem.
Uma das coisas mais difíceis de fazer é de abrandar, ou acelerar, para irmos a um ritmo que não é o nosso. Temos no entanto de que o fazer. Ou temos, por outro lado, de deixar que o outro faça a sua pausa para mais tarde nos apanhar, ou que vá andando, que nós já lá vamos ter.
Isto é muito visível a nível físico,quando caminhamos, passeamos, fazemos exercício, menos visível é a nível emocional, mas igualmente necessário.
Mas o valor não está em deixar que o outro ande ao seu ritmo, mas em ir olhando para trás, para manter um elo visual, saber que embora não no mesmo nível, ainda está lá. Essa capacidade de se manter presente, mesmo que afastado, é que é de valorizar. E só uma pessoa persistente, que não desiste, o fará.
Esse é o teu valor. O de alguém que provou, vários níveis, que era capaz. Que luta quando os outros deixam de lutar e acreditar.
Não deixes de ser assim!
Bj